1 de setembro de 2010

Sobre o Combate às Paixões


Carte de S. Catarina de Sena sobre o combate às paixões


Para Antônio de Ciolo


Saudação e objetivo


Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, caríssimo filho(1) no doce Cristo Jesus, eu Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, vos escrevo no seu precioso sangue, desejosa de vos ver em união de desejo santo com nosso doce Salvador


Ninguém vive sem um amor


Não existe outra maneira de se desprezar o mundo e atingir a pureza perfeita, senão pela conservação da mente e do corpo na continência. Porque a alma que não se aproxima de Deus e não se une a ele pelo afeto do amor, logo se vê longe de Deus, atraída para as criaturas, envolvida em satisfações, prazeres e procura de altas posições no mundo. Ninguém consegue viver sem um amor. E ao amar, transforma-se no objeto amado. A pessoa sempre retira algo daquilo que ama.


O amor humano


Se a pessoa ama o mundo, nele somente encontra sofrimento, porque, pelo pecado, o faz germinar tribulações e males com grande amargura. Nossa carne somente produz mau cheiro, pecado, corrupção. Ao conforma-se com os desejos carnais e a paixão sensível, a alma se envenena e se intoxica mortalmente, pois perde a vida da graça pelo pecado mortal. Eis o que a pessoa recebe do deu amor terno: vive triste, torna-se insuportável a sim mesma. De fato, o próprio Deus permitiu que o afeto desordenado se tornasse insuportável a si mesmo.


O amor divino


Em sentido contrário, todo amor, praticado segundo a vontade divina em união com Deus, traz à pessoa o que existe no Criador, isto é, a máxima doçura. Os servidores de Deus sentem grande prazer, até nos acontecimentos dolorosos e difíceis, pois ao experimentarem a presença de Deus, sentem-se satisfeitos e felizes. Somente Deus pode nos saciar. Deus é mais que nossa alma, maior que todos os seres criados. Tudo o que Deus criou, foi criado para o homem. E o homem foi tirado do nada para amar a Deus de todo o coração, com todo seu afeto. Foi criado para servir a Deus. portanto, os bens terrenos não são capazes de saciar o homem. Mas colocando-os em Deus, a alma humana acha-se em paz e tranquilidade, com o coração aberto para amar a todos na caridade. Então a pessoa procura prestar serviços a todos. Ao auxiliar o próximo, revela o amor que tem por Deus.


E a pureza?


Sendo Deus a máxima e eterna pureza, a união com ele torna a alma e o corpo participante dessa pureza divina. Assim, alma e corpo conservam-se perfeitamente puros. A pessoa prefere morrer a contaminar-se e manchar a mente e os membros corporais pela impureza. Não que se consiga eliminar os pensamentos e os movimentos carnais. Eles não mancham a alma, a não ser que a vontade consinta. Não havendo consentimento voluntário, não há culpa. Há até merecimento em quem resiste e tira, dos espinheiros, a perfumada rosa da pureza perfeita. Dessa maneira, a pessoa adquire maior conhecimento de si, luta contra a própria fragilidade e amorosamente se refugia no Crucificado, com orações humildade e contínuas, convencida de que não existe outro modo de santificar-se, em tão grandes males. Já dissemos antes. Quanto mais a pessoa se aproxima de Deus, de maior pureza participará. Realmente, a pessoa colhe dessas batalhas uma flor puríssima. O remédio para o terrível mal da impureza na enfraquecida carne e em qualquer situação de pecado é este: aproximar-se de Deus com amor e assemelhar-se a ele.


Olhemos para Jesus Cristo.


Filho caríssimo, não fiquemos parados. O tempo é breve e não nos espera. Nem nós o devemos esperar. Coisa terrível é ficar alguém dormindo no sono de total cegueira, sem acordar. É bem verdade, porém, que para acordar e chegar àquela união com Deus, a alma precisa de uma luz! É a luz da fé, que nos faz conhecer nossa miséria e culpa, faz-nos contemplar com pensamento puro o inefável amor de Deus por nós. Deus manifestou seu amor em seu filho Jesus Cristo, o Verbo. E Jesus deu a conhecer seu amor mediante seu sangue derramado num grande incêndio de amor. Qual jovem enamorado pela humanidade, ele correu para a terrível morte na cruz. Como pode alguém opor resistência ao conhecer tão grande amor?


Filho caríssimo, não fujais dessa luz!


Afastai com esforço a nuvem do egoísmo. Olhai com fé viva para o Cordeiro morto e dilacerado, o qual com muito amor vos chama. Ao dar-lhe resposta, atingireis a perfeita união com Deus. E uma vez unido ao Criador, sentireis o perfume da perfeita pureza. Para combater o vício da impureza é importante refletir sobre a dignidade alcançada, por nossa alma e nosso corpo, quando a natureza humana e a divina se uniram em jesus Cristo. Envergonhe-se nossa alma! Sirva-lhe de freio, para não cair na impureza, ver-se elevada acima dos coros angélicos. Eu não duvido! Quando vosso pensamento e vosso desejo se elevarem, toda impureza viciada desaparecerá.


Algumas mortificações necessárias


Mas devemos mortificar nosso corpo, dominando-o com vigílias de oração humilde e contínua. Ocorre abraçar-se com a cruz de Cristo e fugir quanto mais possível de encontros com pessoas que vivem lascivamente. Não duvideis! Deus vos concederá uma imensa graça. Mas devereis cortar – não somente desamarrar – os laços acenados. Procurai organizar decididamente vossa vida. Submetei-vos ao jugo da obediência. Assim destruireis vossa vontade pessoal e mortificares vosso corpo. E experimentareis a garantia da vida eterna. Tenho certeza de que, pelo amor, morareis com Jesus. Vós o fareis. Se não, nada feito!


Conclusão


Eis porque afirmei no início que estava desejosa de vos ver em união de amor com nosso Salvador. Queria que atingísseis a verdadeira pureza e vos libertásseis da paixão (desregrada) , que tanto vos faz sofrer. Tenho certeza de que, se agirdes assim, sereis libertado ou ao menos prefirais a morte ao pecado. Banhai-vos no sangue de Cristo crucificado e iniciai uma vida nova, com a esperança de que vossas culpas sejam consumidas na chama do amor. Quero assumir vosso pecados, destruí-los com lágrimas e preces na fornalha da caridade divina. Quero fazer penitência por vós. Uma única coisa vos peço e a ela vos obrigo! Afastai-vos imediatamente do mundo! Dai-lhe um belo chute. Se não o fizerdes, logo o mundo vos chutará. Não oponhais resistência ao Espírito que vos chama. Nada mais acrescento. Permanecei no santo e doce amor de Deus. Jesus doce, Jesus amor.


(1) Pelo que sugere a carta, Antônio Ciolo era um gozador da vida. Catarina indica-lhe o caminho a seguir para curar-se do mal.

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