16 de dezembro de 2010

A Visão diabólica do Papa Leão XIII

(Trecho do livro "Relatos de um exorcista" do Padre Gabriel Amorth, exorcista
da Diocese de Roma)


Muitos de nós recordamos de que antes da reforma litúrgica do Concílio Vaticano
II, os celebrantes e os fiéis no fim de cada Santa Missa, ajoelhavam-se para
rezar uma oração a Nossa Senhora e outra a São Miguel Arcanjo. Reportamo-nos ao
texto desta última porque é uma oração bonita que pode ser rezada por todo
mundo para o seu próprio benefício: «São Miguel Arcanjo, protegei-nos combate;
cobrí-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o
Deus, instantemente o pedimos, e vós, Príncipe da milícia celeste, pelo poder
de Deus, precipitai no Inferno a Satanás e todos os espíritos malígnos que
andam pelo mundo para perder as almas. Amém. S. - Sacratíssimo Coração de
Jesus. (três vezes). M.- Tende piedade de nós». Como é que nasceu esta oração?
Transcrevo um artigo que foi publicado na revista: Ephemerides Liturgicae,
escrito pelo Pe. Domenico Pechanino em 1055, Pags 58-59. Não me lembro
exatamente o ano. Uma manhã, o Grande Pontífice Leão XIII tinha celebrado a
Santa Missa e estava assistindo uma outra de ação de graças, como de costume.
De repente, viu se ele virar energicamente a cabeça, depois de fixar qualquer
coisa intensamente, sobre a cabaça do celebrante. Mantinha-se imóvel, sem
pestanejar, mas com uma expressão de terror e admiração, tendo o seu rosto
mudado de cor. Adivinhava-se nele qualquer coisa de estranho, de grande.
Finalmente, voltando a si, bate ligeiro, mas energicamente com a mão
levanta-se. Dirige-se ao seu escritório particular. Os mais próximos seguem-no
com preocupação e ansiedade. E perguntam-lhe em voz baixa: Precisa de alguma
coisa? Responde: «Nada, nada». (Pag 44) Daí a uma meia hora manda chamar o
Secretário da Congregação dos Ritos, estende-lhe uma folha de papel, manda
fazê-la imprimir e enviar a todos os Ordinários do mundo. Que continha? A
oração que rezávamos no fim da Missa com o povo, com a súplica a Maria
Santíssima e a invocação ardente ao Príncipe das milícias celestes, implorando
a Deus que precipite Satanás no Inferno». Naquele escrito ordenava-se
igualmente que as orações fossem rezadas de joelhos. Também foi publicado no
Jornal La Settimana del Clero, em 30 de Março de 1947, não sendo citada a fonte
que deu origem à notícia. Será contudo notada a maneira insólita como esta
oração, enviada aos Ordinários em 1886, foi mandada rezar. Para confirmar
aquilo que o Pe. Pechenino escreveu, dispomos do testemunho irrefutável do
Cardeal Natalli Rocca, que na sua carta pastoral para a Quaresma, emanada em
Bolonha em 1946, diz: «Foi o mesmo Leão XIII quem dirigiu esta Oração. A frase
(Satanás e os otros espíritos malígnos) que vagueiam pelo mundo para perder as
almas tem uma explicação histórica que o seu secretário particular Mons.
Rinaldo Angeli, nos contou várias vezes. Leão XIII teve verdadeiramente a visão
de espíritos infernais que se adensavam sobre a Cidade Eterna (Roma), e foi
desta experiência que nasceu a oração que ele quis que toda a Igreja rezasse.
Esta oração, rezava-se com voz viva e vibrante: ouvimo-la muitas vezes na
Basílica do Vaticano. Mas isso não é tudo: ele escreveu também por suas
próprias mãos um exorcismo especial que figura no Ritual Romano (Ed. 1954, tit.
XII,c.III, Pag. 863 e seguintes). Recomendava-se aos Bispos e aos Sacerdotes
que rezassem muitas estes exorcismos nas suas Dioceses e Paróquias. Ele próprio
o fazia muitas vezes durante o dia». Também é interessante ter em conta outro
acontecimento que reforça ainda mais o valor desta oração que se rezava no
final de cada Missa. Pio XI quis que, aos serem rezadas estas orações, se
pusesse uma intenção particular pela Rússia (alocução de Junho de 1930). Nesta
alocução, depois de ter lembrado as orações pela Rússia que ele próprio tinha
pedido a todos os fiéis quando da festa do Patriarca São José (19 de Março de
1930) e, depois de ter lembrado a perseguição religiosa na Rússia, concluiu com
estas palavras: «E para que todos possam sem fadigas e sem obstáculos continuar
esta cruzada, decidimos que as orações que o nosso bem amado predecessor Leão
XIII ordenou aos Sacerdotes e aos fiéis que rezassem depois da Missa, sejam
ditas por esta intenção particular, isto é, pela Rússia. Que os Bispos e o
Clero secular e regular tomem ao seu cuidado informar os fiéis e aqueles que
assistem ao Santo Sacrifício, e que não se esqueçam de lhes lembrar estas
orações. (Civiltà Cattolica, 1930, Vol.III). Conforme se pode constatar, a
presença aterrorizadora de Satanás foi claramente tida em conta pelo Santo
Pontífice, e a intenção que Pio XII tinha acrescentado, visava mesmo o
fundamento das falsas doutrinas difundidas no nosso século, e que envenenaram
não só a voda dos povos, mas também dos próprios teólogos. Se a disposição
tomada por Pio XII não foi respeitada, a falta deve-se àqueles a quem tinha
sido confiada. Inseria-se perfeitamente no âmbito dos avisos carismáticos que o
Senhor havia dado à humanidade através das aparições de Fátima, embora
mantendo-se independente desta: Fátima ainda era desconhecida do mundo.


OS «DONS» DE SATANÁS


Também Satanás dá poderes àqueles que lhe são devotos. Por vezes acontece que,
como ele é um autêntico mentiroso, os destinatários destes poderes não
compreendem imediatamente a sua proveniência, ou não querem compreender, tão
felizes que ficam ao receberem esses dons gratuitos. Pode acontecer que uma
pessoa tenha o dom da clarividência. Outras vezes basta que ponham à frente uma
folha de papel em branco e uma caneta de mão para redigir espontaneamente
páginas e páginas de mensagens. Outras ainda têm a impressão de se desdobrar, e
que uma parte do seu ser pode penetrar em casas e ambientes mesmo longínquos. É
muito comum que algumas pessoas ouçam «uma voz» que por vezes sugere uma oração
e muitas outras coisas. Poderia continuar esta lista. Qual é a fonte destes
dons particulares? Trata-se de carismas do Espírito Santo? São presentes de
origem diabólica? Ou trata-se muito simplesmente de fenômenos metafísicos? A
verdade só pode ser estabelecida depois de um estudo ou um discernimento
efetuado por pessoas competentes.Quando São Paulo estava em Tiatira, aconteceu
ser perseguido por uma escrava que tinha o dom de adivinhar, e que com esse dom
dava muito lucro aos seus patrões. Mas era um dom diabólico, que desapareceu
logo quando São Paulo expulsou o espírito malígno (At 16,16-18). Pag.46 A
título de exemplo examinaremos alguns extratos de um testemunho assinado por
«Erasmo di Bari» e publicado numa revista italiana, em Setembro de 1987. As
observações que figuram entre parênteses são colocadas por nós: «Fiz há vários
anos a experiência do jogo do copo sem saber que se tratava de uma forma de
espiritismo. As mensagens tinham uma linguagem de paz e de fraternidade
(repare-se como o demônio se sabe dissimular sob a aparência de bem). Algum
tempo depois, recebi poderes estranhos, exatamente numa peregrinação a Lourdes
(Esse detalhe também é digno de interesse: não existe lugar, por mais sagrado
que seja, onde os demônios não possam se introduzir). Eu possuía essa faculdade
que a parapsicologia define como extra-sensorial, isto é: clarividência,
leitura do pensamento, diagnóstico clínico, leitura do coração e da vida das
pessoas vivas ou mortas, assim como outros poderes. Alguns meses mais tarde,
apareceu-me outra faculdade: a de suprimir a dor física pela imposição das
mãos, aliviando ou suprimindo o estado de sofrimento: seria aquilo a que chamam
de pranoterapia? Graças a todos esses poderes, eu podia me comunicar facilmente
com todo o mundo. Depois desses encontros, as pessoas ficavam chocadas com o
que eu dizia, e ficavam profundamente perturbadas porque eu as condenava pelos
pecados que tinham cometido, uma vez que eu lia o mais profundo da alma.
Entretanto, ao ler a Palavra de Deus, dei-me conta de que a minha vida não
tinha mudado absolutamente nada. Eu continuava a mesma pessoa irrascível,
susceptível às ofensas, lento em perdoar e fácil nos ressentimentos. Tinha medo
de carregar a minha cruz, medo do desconhecido que o futuro e a morte
representam. Depois de longas peregrinações e de múltiplos tormentos, Jesus
guiou-me até a Igreja. Encontrei lá pessoas que rezaram por mim,e então,
compreendi que o que me acontecia não era de origem divina, mas fruto do
malígno. Posso testemunhar que vi o poder de Jesus. Reconheci isso e confessei
os meus pecados cometidos no passado, arrependi-me, renunciei a toda a prática
de qualquer forma de ocultismo. Esses poderes desapareceram e Deus me perdoou.
Por isso, quero ser grato». Não esqueçamos que a Bíblia também nos fornece
exemplos de fatos extraordinários idênticos realizados por Deus e pelo demônio.
Alguns dos prodígios que Moisés realizou por ordem de Deus diante do faraó, são
realizados igualmente pelos magos da corte. Eis porque quando se trata de
fenômenos desse gênero, não basta ter em conta o fato em si mesmo: é preciso
colocá-lo no seu contexto para determinar a causa.


Devo acrescentar que acontece muitas vezes que as pessoas atingidas por
distúrbios maléficos possuem uma «sensibilidade» particular: aprendem
imediatamente se uma pessoa tem negatividade, predizem acontecimentos futuros e
tem uma tendência clara para querer impor as mãos sobre indivíduos
psiquicamente frágeis. Têm por vezes ainda a impressão de poder influir em
assuntos do seu próximo, desejando-lhe mal com uma maldade que está neles
próprios, quase com prepotência. Constatei que é preciso se opor e vencer todas
essas inclinações para poder obter a cura.

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