16 de janeiro de 2011

Por que a Igreja é tão rica, se Jesus era pobre?

Este artigo é proveniente de uma carta-resposta de Emerson Chenta a um rapaz que fez a seguinte pergunta:

Por que a Igreja e tão rica se Jesus era pobre e pregava a divisão dos bens materiais?

Deus é Senhor absoluto de todas as coisas, porque “todas as coisas foram feitas por Ele e nada do que foi feito, sem Ele se fez.” (Jo 1,1). As qualidades das criaturas, a unidade, a proporção (a variedade na unidade), a grandeza e a ordem do mundo revelam uma causa exterior ao próprio homem Inteligentíssima e Boníssima, fonte de todo bem e toda a verdade. Tudo o que somos e temos procede do Ato Puro, que é Deus. Sendo assim, a própria natureza de Deus estabelece necessariamente entre Ele e nós uma relação de senhorio absoluto sobre o nosso ser e todas as coisas.

Para facilitar seu entendimento, imagine que você por uma desgraça tivesse se tornado paraplégico, surdo, mudo e cego. Enfim, estivesse em estado vegetativo. Se um homem lhe aparecesse e dissesse: eu lhe curo a cegueira, a audição, a fala, e lhe devolvo todos os movimentos, contanto que você não use a fala, a visão, a audição e seus movimentos para me ofender. Não seria justo? Não seria justo que, curado, usássemos a fala, a audição, e os movimentos, enfim, tudo, para retribuir por tão grande bem manifestando a todos a bondade desse homem? Nós recebemos a existência e toda a qualidade de Deus. Nenhum homem fez nada para nascer. Nada que existe foi causa de si mesmo. Esse exemplo é de Santo Antônio Maria Claret em seu livro-comentário Exercícios Espirituais de Santo Inácio, quando trata do princípio e fundamento da religião, que é a compreensão do senhorio absoluto de Deus sobre nós.

Assim, justo é quem obedece a Deus no cumprimento dos seus Mandamentos e empenha todas as suas qualidades e bens para a Sua glorificação.

Essa é uma verdade dura para os tempos atuais. Para os liberais. Para os “intelectuais”. Mas é assim.

De uma forma precisa, a Igreja Católica nos ensina que fomos criados para conhecer, amar e servir a Deus e, mediante isso, salvarmos nossa alma e que a finalidade da Criação como um todo é a glória de Deus.

Por isso, a riqueza, quando subordinada e empenhada para a santificação das almas e para a glória de Deus, é boa. Isto é, quando colabora com a finalidade da Criação, que é a santificação das almas e a glória de Deus. Porque a bondade das coisas consiste em atingir a finalidade para qual elas foram feitas. Assim, uma faca é boa quando corta; um remédio é bom, quando cura; um homem é bom quando obedece aos mandamentos e pratica as virtudes para as quais foi criado.

No Antigo Testamento, no décimo ano de seu reinado, estabelecida a paz, Salomão mandou cortar no Líbano cedros e ciprestes, e fazer um templo riquíssimo, com estátuas em ouro batido e de pedras preciosas. Terminada a construção, que levou sete anos, Salomão convocou os príncipes do povo e ordenou que se transladasse a Arca para o Templo com grandioso cortejo. Cento e vinte sacerdotes tocavam trombetas; os levitas cantavam salmos ao som de instrumentos musicais. Imolaram-se inúmeras ovelhas e bois. Colocada a arca no Santo dos Santos, uma nuvem encheu a casa do Senhor. Salomão prostrou-se diante do altar dos holocaustos e disse: "Senhor, Deus de Israel, se os céus não vos podem conter, muito menos esta casa que eu vos edifiquei. Todavia, dignai-vos a lançar sobre ela um olhar de misericórdia e ouvi a todos aqueles que orarem neste lugar". Então desceu o fogo do céu e consumiu as vítimas. Depois o Senhor apareceu a Salomão e disse: "Nesta casa estarão sempre os meus olhos e o meu coração".

Deus abençoou a obra de Salomão que visava a santificação das almas e a glória de Deus. E isso era excelente.

Por outro lado, se um padre praticasse uma pobreza absoluta e sustentasse uma Igreja totalmente pobre e despojada, por acreditar que a riqueza é má em si, e que toda manifestação visível da Igreja é má, como os hereges espirituais franciscanos da Idade Média, tal atitude seria condenável, por ter como causa e finalidade o favorecimento de uma heresia.

É verdade que Nosso Senhor, como Bom Mestre e modelo de perfeição, quis ensinar por palavras e obras, sobretudo para os judeus, que o Reino de Deus não é desse mundo, contra a expectativa de um Messias político e dominador; queria ensinar o caminho seguro da penitência e do perigo do sucesso no mundo, obstáculo para o nosso desprendimento e assim, quis nascer e viver pobremente; mas de maneira nenhuma é uma condição obrigatória para a salvação, e por isso, a pobreza se classifica como um dos conselhos evangélicos para os que desejam maior perfeição. Assim como o voto de obediência e de castidade também o são. Mas de modo algum são obrigações para a salvação.

Quando o Moço Rico interroga a Cristo sobre o caminho da salvação, Cristo responde para observar os Mandamentos. O Moço rico afirma que já o fazia desde a mocidade. E então Nosso Senhor responde: se queres ser perfeito, vende tudo o que tens e dá aos pobres, toma a sua cruz e siga-me (Mc, 10,17-22). Veja: Cristo não nega a bondade do Moço Rico, pelo contrário, o evangelho diz em latim: dilexit eum. Dilexit significa amar com dileção, com um amor especial. E ele era rico. E foi chamado à perfeição.

São Pedro nos Atos dos Apóstolos repreende duramente Ananias e sua esposa que, de comum acordo, tinham vendido um campo e dado parte do valor dele aos Apóstolos, dizendo que tinham dado tudo. E São Pedro perguntou: “Acaso não o podias conservar sem vendê-lo? E depois de vendido, não podias livremente dispor dessa quantia? Por que imaginaste isso em teu coração? Não foi aos homens que mentiste, mas a Deus.” (At. 5,3). E por isso Ananias e sua esposa foram castigados com a morte. Ou seja, a Igreja, como Cristo, não obrigava a pobreza e condenava a mentira. Hoje os padres modernos condenam os ricos, obrigam a pobreza e não condenam a mentira.

O ex Frei Boff e Robin Hood mandaram distribuir os bens. Jesus Cristo não mandou distribuir os bens. Mandou cumprir os Mandamentos, mandou dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus; mandou amar o próximo como a nós mesmo e a Deus de todo o espírito. Mandou dar esmolas e praticar as obras de misericórdia, por caridade, e não para fazer justiça social.

Porque, rico ou pobre, nós seremos medidos pela caridade. E não pela conta bancária.

Emerson Chenta

http://www.montfort.org.br/index.php?secao=cartas&subsecao=doutrina&artigo=20101219094946&lang=bra

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