31 de março de 2011

A Modéstia no Lazer

Existem aqueles rapazes muito preocupados com a vida interior alheia e que cheio de escrúpulos, vos condenam de no lazer, seres agitados e conversativos, ainda que nada em desagrado a Nosso Senhor tenha sido cometido ou principiado. Pois bem, é exatamente disso que venho tratar hoje. Lembrem-se! A modéstia o torna como os anjos, tão puros até como eles! Não permitas que sejas enganado pelos famosos "pedras de tropeço" !

Para que melhor esclarecimento do que digo a vocês, venho com a recomendação destas frases dos santos que irão falar justo desses momentos tão prazerosos e descontraídos.

NAS CONVERSAS E RECREIOS

"A modéstia põe, em toda a pessoa das virgens, uma graça moderada, e, na sua vida, hábitos pacíficos; ela regula as suas palavras e até o tom da sua voz" (Santo Ambrósio). Restam-nos, para consolidar em nós e aperfeiçoar a modéstia, para disciplinar o nosso corpo, nas horas em que ele mais levado é a emancipar-se, os recreios; e para disciplinar o nosso espírito numa ocasião em que ele suporta mais dificilmente o constrangimento, as conversas. De resto, é fácil compreender que, nestas duas circunstâncias, a modéstia vela pela defesa da castidade. 1º da modéstia nas conversas; 2º- da modéstia nos recreios.

I.- A modéstia nas conversas

"A modéstia é uma virtude que dá as leis de uma boa conversação" (Hugues card.). Encontramo-nos ainda perante um perigo da castidade: quantas almas perturbadas por uma palavra, agitadas por uma frase, até pervertidas por um passatempo com uma pessoa leviana, imprudente, corrompida! Para fugir a esta desgraça, a conversação das consagradas deve ser séria, piedosa e religiosa.

A conversação séria não exclui uma alegria discreta, uma viveza moderada, uma alegria calma que seja o reflexo de uma alma em que reine a ordem e a paz. "Uma religiosa deve ser modesta e devota, mas não triste e carrancuda, porque isso desonra a devoção" (Santo Afonso Maria de Ligório). Mas antes de mais nada, é necessário lembrarmo-nos de que há coisas que o Apóstolo proíbe mesmo "nomear na assembléia dos santos" (Efe., V, 3). Em seguida é preciso repelir toda a palavra que rebaixa o espírito, que faz trabalhar a imaginação, que aproxima da terra. Finalmente, a religiosa é elevada, pela graça e pela sua vocação, a uma esfera superior. Por esta razão, tratai de banir todas as expressões que revelam sem-cerimônia e má educação.

As religiosas, professoras principalmente, devem exercer uma especial vigilância sobre a sua linguagem; espantam e escandalizam, quando dizem ou repetem, diante dos seus educandos, palavras ou expressões menos dignas ou respeitosas. Prestai atenção! Conhece-se pelo som se um sineta está intacta ou rachada; conhece-se pelas palavras se uma cabeça está vazia ou cheia, se um espírito é ou não refletido. Falai com tanta justiça e tão a propósito que "as vossas palavras sejam como maçãs de ouro em vasos de prata" (Prov., XXV, 11).

A segunda qualidade das conversações das virgens é a piedade. Santo Inácio, mártir, no meio dos seus suplícios, repetia sem cessar o nome de Jesus, e, quando morreu, encontraram este nome bendito gravado no seu coração. Assim, cada um fala voluntariamente daquilo que mais ama: "tal é o coração, tais são as palavras" (São João Crisóstomo). Um modelo acabado de verdadeiro religioso, "Santo Inácio de Loyola, parecia só saber falar de Deus, de tal modo que o tinham cognominado de 'o padre que não tem na boca senão a Deus'" (Santo Afonso Maria de Ligório).

É sempre fácil a uma religiosa, "sem se armar em presumida nem em mentora, mas com espírito de doçura, de caridade, de humildade" (São Francisco de Sales), conduzir a conversa para assuntos pios: entre irmãs, entreter com o que interessa à família; com estranhos, responder e corresponder, senão aos seus desejos, pelo menos à sua expectativa, e é um dos principais meios de os edificar (Santo Inácio).

Finalmente, as nossas conversas devem ser religiosas. Devemos abster-nos "de dizer palavras que seriam pouco decentes para o estado religioso. A palavras que sabem ao mundo são inconvenientes na boca de uma religiosa". Por exemplo, não convém que ela "fale das coisas do mundo, tais como casamentos, banquetes espetáculos, vestidos aparatosos"; em geral de tudo o que lembra a matéria das suas renúncias (Santo Afonso Maria de Ligório). Há religiosas que são verdadeiramente largas em demasia nesta matéria; escandalizam, sem mesmo darem por isso, cristãs mais delicadas do que elas mesmas: ou então falam muito livremente, ou escutam com demasiada avidez. Que o Senhor se digne "pôr nos seus lábios uma porta de circunspecção" (Salmo, CXI, 3).

II - A modéstia nos recreios

"Deus quer que as pessoas que O amam tenham de tempos a tempos algum descanso, para se não estar de espírito sempre tenso. Se vos quiserdes recrear, fazei-o, mas como religiosas" (Santo Afonso Maria de Ligório). "O recreio é necessário ao repouso do corpo e do espírito. Ele não interrompe a vida interior, quando é utilizado para mais vivamente se cumprir o serviço de Deus" (São Francisco de Sales).

Para se não transgredirem as regras da modéstia, o recreio deve ser santamente alegre. É alegre, quando "as irmãs se conduzem nele, não em atitudes tristes e acabrunhadas, mas de rosto gracioso e afável" (São Francisco de Sales). Só "temperamentos doentios podem achar estranho que se fale em voz alta no recreio ou que se ria de bom grado, sem no entanto se rir a bandeiras despregadas nem falar com uma voz ruidosa, contrária à modéstia" (Santa Joana de Chantal).

"Quando o recreio é bem passado, quando a diversão se faz com a reserva e a decência que convêm a religiosas, mas com despretensionismo, simplicidade e contentamento, tudo corre bem na casa. Considerai o recreio como o pulso da comunidade; se nele há alegria, podeis crer que tudo decorre bem; se ali há sombras, é sinal de que o corpo sofre de qualquer lado" ( Mons. de Chaffoy).

Os recreios são santos, se, observados com espírito de fé e de obediência, se evita toda a familiaridade, principalmente a que compromete a castidade; porque as religiosas devem ser ali abertas e cordiais, sem deixarem de se mostrar graves e modestas.

"Um dos defeitos da cordialidade, é parecerem rudes e macambúzias, mostrarem um semblante triste e abatido. O outro defeito é o excesso de cordialidade; por exemplo, quando se vê uma rapariga a testemunhar à sua irmã, com excesso, o amor que lhe dedica, depois tomá-la pela mão ou pelo corpo e beijá-la. Deve-se misturar a cordialidade com o respeito: se não testemunhais a alguém senão cordialidade, denotais falta de respeito; se apenas testemunhais respeito, dais prova de falta de cordialidade. É bom que se recreiem modestamente, evitando risos exagerados e gestos piegas, evitando tocarem umas nas outras. Tende cuidado, minhas filhas, o demônio estendeu por baixo uma armadilha que vós não vedes" (São Vicente de Paulo).

"As religiosas que passam modestamente os seus recreios, edificam-se umas às outras e praticam o bem pelo seu contato mútuo, como 'as vinhas plantadas por entre oliveiras: dão cachos que têm o sabor das azeitonas'" (São Francisco de Sales).

Para serem santos, os recreios devem ser também moderados. A obediência marca a hora e a duração deles. Mas importa que eles terminem logo ao primeiro toque da sineta, que não os prolonguem por moleza ou negligência, com prejuízo de outros exercícios ou ocupações. Aliás cair-se-ia na ociosidade, e uma religiosa não pode esquecer que "a ociosidade é a mãe de todos os vícios" (Ecles., XXXIII, 29); que "o preguiçoso é o ponto de mira de todo o inferno e como que a cama de repouso de Satanás" (São Boaventura); que "quem está ocupado, tem apenas um demônio a tentá-lo, enquanto que quem está ocioso, encontra-se rodeado por toda uma legião" (Vida dos Papas).

Afetos. - "Dignai-vos Senhor, dirigir, santificar, conduzir e governar, neste dia, os nossos corações e os nossos corpos, os nossos sentimentos, as nossas palavras e os nossos atos, segundo a Vossa lei e as obras dos Vossos preceitos, a fim de que, neste mundo e na eternidade, mereçamos, com o Vosso auxílio, ó Salvador do mundo, ser salvos e resgatados" (Breviário romano).

Exame. - São as minhas conversas ao mesmo tempo sérias, caridosas, discretas, dignas? - São piedosas, impregnadas de simplicidades e sinceridade? - São religiosas, evitando tudo o que não convém a uma consagrada: e isto tanto com estranhos como com as minhas irmãs? - Qual é a minha atitude nos recreios? digna e afável? cordial e respeitosa? - Não sou desleixada, sonhadora, ociosa?

Resolução.
Remalhete espiritual. - "Mostrai que sois um modelo em todas a coisas; na pureza dos costumes e na gravidade do porte; que a vossa palavra seja sã e irrepreensível". (Tito II, 7,8)
(Ensaio sobre a castidade, pelo Pe. F. Maucourant, edições Paulistas, ano de 1959, com imprimatur)

Fonte: A Grande Guerra.

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