8 de setembro de 2011

Natividade da Santíssima Virgem

Festa da Natividade de Nossa Senhora (cor branca, festa de segunda classe)

Resumo Histórico

É no século VII que surge a festa da Natividade da Virgem. Dela temos menção no Sacramentário Galasiano, livro que enumera as festividades da Igreja. O Papa Sérgio I (687-701) prescreveu para o dia de sua celebração uma procissão de rogações. No Oriente a festa era também conhecida, como vemos de dois sermões de S. André de Creta (720).

Hugo de São Victor
SERMO XXXIV
Sobre a Natividade, ou a
Assunção da Bem Aventurada
Virgem Maria


"Quem é esta que surge como a aurora quando se levanta, formosa como a Lua, brilhante como o Sol, terrível como um exército em ordem de batalha?" (Cant. 6, 9)

Irmãos caríssimos, a bem aventurada Virgem Maria foi como a aurora, pois surgiu no fim de um tempo que foi como a noite e brilhou como a estrela matutina que precedeu a verdadeira luz da graça e do Sol de justiça que dela teve origem. Todo o tempo que a precedeu, desde Adão até a sua origem, foi de fato como a noite, uma noite longa, obscura, fria, ociosa, entorpecida, sonolenta, silenciosa, ou melhor, muda. Foi noite, pela ausência da verdadeira luz; longa, pela duração de seu tempo; obscura, pela tenebrosidade da infidelidade; fria, pelo defeito da caridade; entorpecida, pela exibição da boa obra; sonolenta, pelo esquecimento da bem aventurança; silenciosa, pela voz da verdadeira confissão; muda, pelo cântico do louvor divino. Com exceção daqueles poucos justos que durante longo tempo fustigaram de suas maldades aquele antigo povo e, segundo o costume dos galos que durante a noite cantam prenunciando o dia, anunciavam os mistérios do futuro Salvador e da Igreja, quase todo o mundo estava entorpecido pelo silêncio e pelo sono, conforme está escrito no Livro da Sabedoria:

"Quando tudo repousava em um profundo silêncio, e a noite estava no meio do seu curso, a tua palavra onipotente, Senhor, desceu do trono real". (Sab. 18, 14-15)

Alguns astros irradiavam sua luz naquele tempo, pois os santos patriarcas e profetas ilustravam pelas suas virtudes a ignorância daquele povo. Surgindo, porém, a aurora, estes raios de certo modo se ofuscaram, pois em comparação com a bem aventurada Maria os santos profetas tinham pouca claridade. O que foi, efetivamente, a inocência de Abel, a justiça de Noé, a fé de Abraão, a longanimidade de Isaac, a tolerância de Jacó, a continência de José, a mansidão de Moisés, a fortaleza de Josué, a caridade de Samuel, a humildade de Davi, o zelo de Elias, a abstinência de Daniel, a exímia santidade do bem aventurado João, e as virtudes dos demais santos, em comparação com a bem aventurada Maria? A bem aventurada Virgem Maria foi verdadeiramente uma aurora claríssima que pelo seu magnífico resplendor diminuiu a claridade dos padres precedentes. Com razão tudo o que nas Escrituras ou nas criaturas é louvável, convém ao seu louvor. Assim como ela é aurora pela antecipação da verdadeira luz, assim também é flor pela beleza, favo pela doçura, violeta pela humildade, rosa pela caridade ou compaixão, lírio pela suavidade, videira pela frutificação, qualquer aroma pela boa opinião, fortaleza pela segurança, muro ou torre pela fortaleza, escudo ou fortaleza pela defesa, coluna pela retidão, esposa pela fé, amiga pelo amor, mãe pela fecundidade, virgem pela integridade, senhora pela dignidade, rainha pela majestade, ovelha pela inocência, cordeira pela pureza, pomba pela simplicidade, rola pela castidade, qualquer animal puro e doméstico pela conversação pura e mansa, nuvem pela proteção, estrela pela incoação de qualquer virtude ou boa obra, lua pelo seu aumento, sol pela sua consumação e, finalmente, pureza celeste pela plenitude do bem celeste.

Mas, para que voltemos àquilo pelo que começamos, depois da própria bem aventurada Virgem Maria ter surgido no mundo como aurora resplandecente, imediatamente após o seu surgimento, dela surgiu o Sol da justiça Cristo Deus nosso o qual, desfeitas as trevas, iluminou todo o mundo, tanto que os povos das gentes, que caminhavam nas trevas,

"Viram uma grande luz". (Is. 9, 2)

"Não caminhemos", exorta-nos o Apóstolo na Epístola aos Romanos, "como nossos pais, os gentios", sobre os quais nos mostra que "tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, mas desvaneceram-se nos seus pensamentos.Adoraram e serviram a criatura de preferência ao Criador, que é Deus, bendito por todos os séculos,
por causa do que Deus os entregou a um sentido depravado, para que fizessem o que não convém, cheios de toda a iniquidade, de malícia, de fornicação e avareza", (Rom. 1; 21, 25-6, 28-9) e de outros vícios e pecados detestáveis, os quais enumera nesta mesma passagem. Quanto a nós, porém, irmãos caríssimos, ele nos convida a que deixemos os vícios e os pecados, ensinando-nos que são "obras das trevas", (Rom. 13, 12) pedindo-nos que nos "revistamos das armas da luz",
(Rom. 13, 12) e que, como no dia da graça, "caminhemos honestamente". (Rom. 13, 13)

Todos os vícios e pecados são carnais ou espirituais, e o Apóstolo no-los proíbe todos, seja segundo a coisa, seja segundo a significação, quando nos diz:

"Não em glutonaria e na embriaguez, não em leitos e impudicícias, não em contendas e emulações".(Rom. 13, 13)

De fato, todos os pecados carnais ou pertencem à gula, e no-los são proibidos onde se diz: "Não em glutonaria e na embriaguez"; ou pertencem à luxúria, e no-los são proibidos onde se acrescenta: "Não em leitos e impudicícias". Os pecados espirituais ou são exteriores, e no-los são proibidos onde se diz: "Não em contendas"; ou são cometidos interiormente, e no- los são proibidos onde se acrescenta: "Não em emulações". De fato, a contenda é exterior e pela boca, enquanto que a emulação é interior e se dá no coração.

Finalmente, quando se conclui:

"Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo", (Rom. 13, 14) são nos preceituados todos os bens, sejam espirituais, sejam corporais, pois revestir-se de Cristo é viver santa e honestamente em Cristo.

Portanto, irmãos caríssimos, expulsemos o demônio com suas obras tenebrosas, tendo ódio pelo mal. Revistamo-nos de Cristo, amando o bem, exercitando as virtudes, exibindo as boas obras, pois assim como tivermos caminhado honestamente no dia da graça, assim também alcançaremos a glória da pátria suprema. Oremos igualmente para que pelos méritos e pelas preces da santa Virgem Maria, o Sol da justiça sempre nos ilumine, sempre permaneça, nunca se ponha. Que a exemplo de Josué, para quem "o Sol não se moveu sobre Gabaon, até que não tivesse vencido seus inimigos", (Jos. 10, 12-13)
este outro Sol esteja também sempre conosco, como Ele mesmo o prometeu aos seus fiéis até a consumação dos séculos, até aquele dia em que também nós, vencidos os nossos inimigos, sejamos premiados com os tronos celestes.

E que para tanto se digne vir em nosso auxílio Jesus Cristo, nosso Senhor, que é Deus, bendito pelos séculos dos séculos.

Amén.

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