24 de outubro de 2011

Meditações de S. Tomás: 25 de outubro

MODO DE RECUPERAR A DOÇURA DIVINA PERDIDA




“Durante a noite, no meu leito, busquei aquele a quem ama a minha alma” (Cant., III, 1.)


I. O homem deve esquadrinhar sua consciência. Os cuidados exteriores de tal modo ocupam a alma que, quando quer voltar à sua consciência, ocorre muitas vezes ter perdido aquela doçura que antes possuía. Mas quando o homem está distraído em seu espírito, não pode saborear esta doçura que primeiramente sentia, deve entrar no íntimo de seu coração e buscar a Cristo. A esposa busca em seu leito, isto é, em sua consciência, e não o encontra: Durante a noite, no meu leito, busquei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o e não o achei. E quando isto ocorre, deve levantar-se e procurar se desejou ou executou alguma coisa que tenha desagradado a Cristo, pela qual se sente distraído na consciência.



O modo de procurá-lo se indica aqui: Levantar-me-ei, e rodearei a cidade; buscarei pelas ruas e praças públicas (Ibid., 2). Quer dizer, entrando na consciência, busquei a Cristo e não o encontrei. Motivo pelo qual, a fim de encontrá-lo, buscarei ainda, levantar-me-ei, e rodearei a cidade, isto é, por um exame atual indagarei à minha consciência, e pelas ruas e praças públicas, quer dizer, por todos os ditos, desejos e ações que executei, disse e desejei, e verei se fiz algo que lhe desagradou, e agindo desta maneira, buscarei (...) aquele a quem ama a minha alma (Ibid. 2). Porque se alguém, depois disto, não possa retornar à doçura da contemplação, deve pensar que talvez tenha delinqüido em alguma coisa que lhe impede de sentir a doçura costumeira. E em conseqüência, deve esquadrinhar totalmente a cidade, isto é, sua consciência.

Convém advertir que a consciência é o leito em que Cristo descansa, porque é um leito estreito, no qual apenas um pode deitar-se, quer dizer, ou Cristo, ou o diabo. Mas, se consideramos a consciência e nosso coração quanto ao gênero de pecados que neles pode haver, então a cidade é distinta das ruas e praças, isto é, nela há delitos maiores e menores.

II. O homem deve evocar a lembrança da divina doçura. Quando alguém volta da ação para a contemplação, se não encontra a Cristo, saiba que entre as coisas que lhe estimularão a buscá-lo está a lembrança da doçura perdida; porque ao pensar o homem que uma vez saboreou na oração a doçura divina, e depois, ao voltar para a oração, não sente tanta doçura como antes, estimula-se com a lembrança daquela doçura a examinar seus pensamentos e afetos, para conhecer se com eles desagradou a Cristo, e chegar a descobrir a causa que lhe impede de sentir esta doçura.

III. Deve afastar os pensamentos vãos. Estes pensamentos se chamam guardas da cidade (Ibid. 3); porque sempre estão dispostos a assaltar-nos e apoderar-se de nós; mas devemos abandoná-los, porque nestes pensamentos não se encontra Cristo. Diremos melhor: (os guardas que rondam a cidade) encontraram-me, deram-me e feriram-me. Tiraram-me o meu manto... (Cant., V, 7.). Ferem-nos quando lhes damos acesso; chagam-nos quando nos deleitamos neles; mas levam nosso manto despojando-nos das virtudes e dos dons, quando consentimos neles. 


(In Cant., III, V.) 

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