21 de setembro de 2012

Nunca assumir tarefas demais

Dos meios para conservar sempre a alegria: sexto meio.

I. Muitas vezes, exigimos demais de nós mesmo; nos esforçamos; impomo-nos muitos deveres arbitrários, e cumprimo-los com uma rigidez excessiva. Às vezes, estamos esgotados; não importa, queremos concluir nossa obrigação. Daí o abatimento e a tristeza, o mau humor e o rancor. Vós ouvistes falar amiúde de certas devotas, que são mais inquietas do que as pessoas do mundo; e que depois de terem orado longamente a Deus na Igreja, provocam tumultos dentro da própria casa. Elas são piores do que os outros? De forma alguma. Segui-as, vós as achareis mais sábias, mais reservadas, mais imparciais, mais sóbrias, mais contidas, mais aplicadas aos seus deveres do que as mulheres do mundo; seu azedume, em certos momentos, e sobretudo quando elas voltam dos lugares santos ou quando saem dos tribunais sagrados, não provém senão dos escrúpulos que as devoram, ou do excesso de sua aplicação aos santos exercícios, que tensionou demais seus nervos e que as dispôs a se abalarem ao mínimo toque. Se, em vez de estar três ou quatro horas seguidas na Igreja, elas se contentassem com aí permanecer um hora, sairiam mais alegres e mais sociáveis.

II. Nós desejamos ser de todas as confrarias, praticar grande quantidades de boas obras, acompanhar todas as festas públicas ou particulares, e nos portar nelas com muito fervor; nos esforçamos, e ficamos abatidos; amamos o trabalho, nos entregamos a ele com excesso; destruímos o corpo e a alma; sofremos qualquer necessidade ou qualquer dor, desejamos suportá-la sem dar-nos o socorro e o alívio que se apresentam. Mas frequentemente a própria vontade é satisfeita, e a alegria se perde. O rei-profeta conservava suas forças para servir a Deus; e nós devemos, imitando-o, conservar sempre a liberdade de nossa alma, para nos elevar a Deus, e a força do nosso corpo, para trabalhar no seu serviço. 

Essa rígida exatidão é uma cilada que o demônio vos prepara, para vos aborrecer no serviço de Deus, tornando-o muito penoso aos vossos olhos, ou para arruinar vossa saúde. Quando ela estiver arruinada, vós não podereis mais vos dedicar aos vossos serviços de piedade; e vosso inimigo, vendo-vos esgotado e sem armas, redobrará seus esforços e vós vos arriscareis [a perder] tudo; então, não vos atormenteis nunca a vós mesmos em vossas práticas livres; e evitai cuidadosamente o desgosto do tédio. Variai vossas ocupações, fazei suceder a prece ao trabalho, e a leitura à prece. Essa era a máxima dos antigos solitários e era o que lhes permitia permanecer toda sua vida nos vastos desertos. Tudo, exceto o dever rigoroso, deve ceder à liberdade interior, à paz e a à alegria.

III. Cada exercício de piedade particular é louvável, mas todos juntos nos esgotariam sem nos santificar. Todos os alimentos são bons; mas o excesso é nocivo. O bom regime é tomar deles sempre menos do que poderíamos digerir; e a boa conduta, quando se fala de prática baseada no livre-arbítrio, é se impor sempre menos do que se poderia cumprir, ou ao menos de deixá-los sem sofrimento moral desde que nos sintamos cansados. Dessa maneira os fazemos sem desgosto, os recomeçamos sem repugnância, nós os cumprimos muito melhor, e um ar de contentamento nos acompanha em toda a parte. Onde está o espírito de Deus, aí reina a liberdade e a alegria, e onde existe escravidão, aí domina a tristeza. Sobretudo, é preciso abster-se das austeridades excessivas, que, destruindo a saúde, nos fazem perder a alegria e o gosto mesmo dos santos exercícios. Se vós notais, dia Santo Anselmo, que a austeridade de vossa vida afeta a vossa saúde, moderai-a; pois vale mais fazer qualquer coisa com a alegria que a boa saúde proporciona do que ser obrigado a abandonar tudo, ou cumprir mal uma tarefa, quando o temperamento será arruinado, por aquilo que fazeis sempre bem quando o fazeis com alegria. 

Fonte: Tratado da Alegria da Alma Cristã - Padre Ambrósio de Lombez, O.F.M. Cap. 1a. Edição, Brasília-DF, 2010 - Editora Pinus. 

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