LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio eletrônico
Sermão do Beato Estanislau Kostka, de Padre Antônio Vieira.
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Edição de Referência:
Edição de Referência:
Sermões.Vol. X Erechim: EDELBRA, 1998.
SERMÃO DO BEATO ESTANISLAU KOSTKA
Da Companhia de Jesus,
Pregado na língua italiana, em Roma, na Igreja de Santo André do Monte Cavallo, Noviciado da mesma Companhia.
Ano de 1674.
Beatus venter qui te portavit. [1]
§1
Louvar o filho pela mãe, ou engrandecer a mãe pelo filho, invento não vulgar de uma eloqüência do vulgo. A tríplice geração de Cristo e a tríplice geração de Estanislau. Assunto do sermão: um filho bem-aventurado, beatificado em três mães, e três mães bem-aventuradas e beatificadas em um filho.
Louvar o filho pela mãe, ou engrandecer a mãe pelo filho, invento foi não vulgar de uma eloqüência do vulgo. Assim disse quem não tinha aprendido a bem falar na língua própria, e assim o farei eu na estranha. Hei de falar de um beato, e não posso deixar de beatificar o ventre de que nasceu: Beatus venter qui te portavit (Lc. 11, 27). - Esta é a obrigação de louvar o filho, e esta a necessidade de não poder louvar juntamente a mãe. Mas qual mãe? O filho é Estanislau; e, quando eu ponho os olhos neste bendito filho, vejo uma, duas, e três mães, cada uma das quais o quer por seu. Não basta aqui a espada de Salomão, porque são mais de duas as que litigam.
Viveu pouco Estanislau, e não podia viver muito. Aos anjos concede-se pouca vida, ou pouco espaço de viadores; e não pode continuar muito quem começa pelo fim. Contudo, em uma via tão breve, e em uma vida tão curta, foi Estanislau três vezes concebido e três vezes nascido. Não digo coisa nova e sem exemplo; mas o exemplo é tão único, e tão alto que a faz mais admirável e mais nova. Falando de seu próprio Filho, diz Deus por boca de Davi: Filius meus es tu; ego hodie gemi te (SI. 2, 7): Vós sois meu filho, e eu vos gerei hoje. - Mas quando foi este hodie, e este hoje? Em um, em dois, e em três nascimentos. Hodie: hoje, na geração eterna; hodie: hoje, na encarnação temporal; hodie, hoje, na ressurreição gloriosa. Assim o afirma S. Paulo. E isto, que só se crê de um homem-Deus, nós o veremos por seu modo em um moçozinho que não chegou a ser homem. Cristo três vezes nascido de um só pai; Estanislau três vezes nascido, mas de três mães.
E que mães foram estas? Uma em Polônia, ilustríssima; outra em Germânia, diviníssima; e a terceira em Roma, perfeitíssima. Em Polônia, a mãe natural, que lhe deu o primeiro ser; em Germânia, a Mãe de Deus e sua, que lhe deu o segundo; em Roma, a Companhia de Jesus, que lhe deu o último, e, apenas concebido no ventre, o tresladou à sepultura. Foi Estanislau o primeiro que morreu nesta casa, e, sendo ela verdadeiramente mater viventium [2], ele foi o seu primogenitus mortuorum [3]. - Não devia uma tal mãe ter outro primogênito, nem um tal primogênito outra mãe. A primeira mãe cede facilmente à terceira; a terceira cede gloriosamente à segunda; e eu, para louvar a Estanislau em todas três, que farei? Não farei, nem posso fazer mais, nem menos, que provar o meu tema em todas três. Veremos, pois, em outros tantos correlativos, um filho bem-aventurado beatificado em três mães, e três mães bem-aventuradas, e beatificadas em um filho: Beatus venter qui te portavit. - Temos não só proposto, mas já dividido o discurso; comecemos pela primeira parte.
§II
A primeira folha da vida de Estanislau, o nome de Jesus esculpido no ventre de sua mãe. Sendo todos os santos obras de Deus, por que só esta firmou o mesmo Deus, e sobrescreveu com seu nome? Estanislau, jesuíta nascido. Que quer dizer o nome de Jesus estampado sobre Estanislau concebido em Polônia? A milagrosa vitória da Polônia sobre o exército de Osmã. A vitória de Estanislau sobre o império Otomano, escrita e retratada por S. João em uma das mais famosas figuras do seu Apocalipse.
Beatus venter qui te portavit.
Concebido que foi Estanislau - começo assim, porque em matéria grande, e em tempo breve, nem se deve perder tempo nem palavra - concebido que foi Estanislau no ventre da primeira mãe, eis que aparece milagrosamente sobre o mesmo ventre o nome de Jesus, não escrito, ou pintado, mas esculpido e relevado na mesma carne, e todo cercado de raios. Ouvistes ou lestes alguma hora caso semelhante? Prodígio verdadeiramente estupendo e inaudito; mas, se eu me não engano, já de muito longe antevisto e prometido. Do nome de Jesus tinha profetizado Isaías, em uma palavra de dobrada significação, duas coisas singulares, que veriam os séculos futuros. A primeira, que aquele nome seria nomeado do céu; a segunda, que do céu seria esculpido: Nomen, quod os Domini nominabit; nomen, quod os Domini insculpet [4]. - E quando se cumpriu este oráculo? A primeira promessa se cumpriu antes da conceição de Cristo, quando o anjo anunciou do céu o nome de Jesus: Quod vocatum est ab angelo prius quam in utero conciperetur [5], - A segunda não estava ainda cumprida, e se verificou na conceição de Estanislau, quando no ventre da mãe apareceu o nome de Jesus esculpido: Nomen quod os Domini insculpet. - Mas o nome de Jesus no ventre de uma mulher? No ventre de uma mulher aquele nome quod est super opine nomen [6] - não só escrito, ou sobrescrito com letras; não pintado, ou divisado com cores, mas formado da mesma carne? Sim, da mesma carne, e aqui está o mais admirável e o mais miraculoso do milagre. Nas entranhas da Mãe de Deus encarnou Deus o seu Verbo, e nas entranhas da mãe de Estanislau encarnou o Verbo o seu nome.
Naquele ventre a Encarnação do Verbo oculta, nesta a encarnação do nome manifesta; naquele, com milagre novo e inefável, que não terá segundo; neste com milagre novo e inaudito, que não teve primeiro. Oh! mulher verdadeiramente beatificada e consagrada! O teu ventre foi o primeiro templo de Estanislau, e, posto que ainda se não podia adorar o santo, já se devia adorar o templo: Ut in nomine Jesu omne genu flectatur [7].
Esta é, senhores, a primeira folha da vida de Estanislau, na qual vos peço que façais reflexão sobre o que eu principalmente admiro, e é que, sendo todos os santos obra de Deus, só esta firmou o mesmo Deus, e sobrescreveu com o seu nome. Se víssemos que um famosíssimo artífice, depois de ter entalhado em mármore muitas estátuas, ou pintado em lâminas de bronze muitas figuras, todas que espirassem vida e causassem espanto, e ao pé de uma só delas imprimisse a sua divisa, ou escrevesse o seu nome, que diria o mundo? Diria, com razão, que aquela era a obra mais primorosa da sua arte, aquela a mais estimada dele, e mais perfeita. Eu não me atrevo a dizer tanto; mas, tanto é o que em semelhantes casos fazem os artífices humanos, e tanto o que fez - bem que uma só vez - o divino. Daqui se entenderá um famoso texto de S. João, ainda entre os doutos dificultoso: Hunc enim Pater signavit Deus [8]. - Quer dizer que no composto inefável de Cristo, imprimiu e estampou Deus Padre o seu selo. - Assim o declara mais expressamente o mesmo texto original grego: Hunc enim Pater sigillavit Deus. - Ora, vede.
Criou Deus, e vestiu a terra com tanta variedade de criaturas, cuja formosa vista suspende e leva após si os olhos; mas não imprimiu o seu selo na terra. Criou o céu bordado de ouro sobre azul, com sol, lua e estrelas, vencendo a arte e a ordem, não só a matéria, senão a forma de todas as sublunares, mas não imprimiu o seu selo no céu.
Criou os homens e anjos, os querubins e os serafins, e, posto que em todos e cada um, ou com semelhança, ou com diversidade admirável, tivesse ideado a sua própria imagem, nem por isso imprimiu neles a estampa do seu selo. E por quê? Não eram obras dignas da mão e do pincel divino? Sim, eram, e muito: Vidit cuncta quae fecerat, et erant valde bona [9]. - Por que razão logo não as honra Deus, ou não se honra de imprimir nelas o seu selo? Porque tinha o supremo Artífice na mente outra obra mais nobre, mais sublime, mais divina, mais sua; e esta só julgou por digna de a sinalar e distinguir de todas as outras com a divisa do seu nome. Assim foi: Creavit Dominus novum super terram [10]. - Saiu Deus ao mundo com aquele artefato novo e incompreensível, aonde atou o humano com o divino, o criado com o incriado, o finito com o infinito, unidos e divididos juntamente em um suposto; e como aquela era a maior obra sua, aonde a onipotência empregou todo o poder e a sabedoria, compendiou toda a arte, esta só sobrescreveu com o seu nome e selou com o seu selo: Hune Pater signavit Deus. - Este é o verdadeiro sentido do texto. Mas eu tremo de aplicar a semelhança. Só não posso deixar de dizer o que se não pode negar. De Cristo é verdadeiro dizer: Hune Pater signavit Deus; de Estanislau não se pode negar: Hunc Filius signavit Deus. - Cristo sinalado com o selo do Padre, Estanislau sigilado com o nome do Filho.
Mas qual será o significado deste grande sinal? Um sinal, um prodígio, um portento tão novo e inaudito, não podia não ter e encerrar em si uma grande significação. E qual foi esta? Todos dirão que ser Estanislau sinalado no ventre da mãe com o nome de Jesus, significa que aquele menino seria um insigne ou assinaladíssimo jesuíta - falo ao vosso modo. - Um Xavier, um Borja, um Gonzaga, e tantos outros mártires e confessores, e ainda o mesmo pai de todos, foram jesuítas feitos; Estanislau foi jesuíta nascido. Esta é a energia com que dizemos que o orador se faz, e o poeta nasce. Foi Estanislau jesuíta nascido, e, o que é mais, muito antes de nascido já jesuíta.
Morreu Estanislau no noviciado, e podia competir na antiguidade com o mesmo fundador. Santo Inácio viveu sessenta e cinco anos, e teve dezesseis de jesuíta; Estanislau viveu dezoito anos, e teve de jesuíta dezenove, porque já desde a conceição era jesuíta.
Certamente este significado parece próprio e natural; mas, segundo a nossa divisão, pertence à terceira mãe, e não à primeira, de que agora falamos. Qual foi logo o verdadeiro significado daquele miraculoso Jesus, em respeito à primeira mãe de Estanislau, que é a de Polônia? Eu não quero nem posso querer outra interpretação, nem mais própria, nem mais certa, que a do primeiro intérprete do mesmo nome. O anjo, que foi o primeiro que pronunciou e interpelou o santíssimo nome de Jesus, que disse: Ipse enim salvum faciet populum suum: (Mt. 1, 21): Porque ele salvará o seu povo. - Este é o verdadeiro significado daquele sinal. Sabeis que quer dizer o nome de Jesus estampado sobre Estanislau concebido em Polônia? Quer dizer que aquele menino seria o salvador e libertador do seu povo: Ipse enim salvum faciet populum suum. - O efeito provou o prodígio. - Quantas cidades de Polônia, e quantas vezes ardiam em peste, e, recorrendo a Estanislau, não só católicos, mas também hereges, e como se ao seu mandado embainhasse a espada o anjo percussor, todas ficavam livres? Porém, estes eram povos particulares, e o sinal diz mais: Populum suum - não um, ou alguns povos, mas todo o povo, todo o reino, toda a nação; e assim o experimentou a Polônia toda.
O maior perigo em que jamais se viu toda Polônia, foi o ano de seiscentos e vinte e um, quando Osmã, com exército de trezentos mil turcos, e maior número de tártaros, não só a vinha invadir, mas inundar, não só a conquistá-la em parte, mas a dominá-la e devorá-la toda. E qual foi o remédio e o socorro em caso e aperto tão desesperado? Já o rei e o reino tinham pedido a Roma a cabeça de Estanislau, para que ele o fosse das suas armas, sustento e muro da pátria, quando entre grande temor, e pouca esperança, amanheceu o dia decretório de dez de outubro, decretório, mas imortal. No mesmo dia entrou a cabeça de Estanislau na Polônia; no mesmo dia apareceu Estanislau visível no ar, não armado, mas orando; no mesmo dia foi visto o Menino Jesus, que do colo e braços da Mãe, voltado a Estanislau, lhe dava a mão; no mesmo dia se deu a desigualíssima batalha, e no mesmo foi roto Osmã; e a multidão imensa dos bárbaros feros, armada e atônita, precipitou a fugida.
Assim ficou em pé e salva aquela grã-muralha do cristianismo, e Estanislau, nas vozes, nas pinturas, nas estátuas, nas escrituras, aclamado salvador, e libertador da sua pátria e do seu povo: Ipse enim salvum faciet populum suum.
Tal foi o significado daquele grande sinal. Mas a maior glória do caso, a meu juízo, é que o sinal, o significado, a mãe, o filho, a vitória, o turco, tudo foi visto por S. João, e o deixou escrito ou retratado de sua própria pena, em uma das mais famosas figuras do seu Apocalipse. E agora - contra o que costumo - citarei a multidão de autores, que, quando não são necessários, mais servem de embaraçar e escurecer, que de declarar o que dizem. Santo Antonino, Ubertino de Casalis, Paulo Burgense, Pedro Galatino, Célio Panônio, Lirano, Dionísio Cartusiano, Serafino de Fermo, Ribera, Viegas, Sá, Cornélio A Lápide, e os outros comentadores, que escreveram depois do império otomano, todos concordam que em boa parte do Apocalipse estão historiadas as perseguições da seita maometana contra a Igreja, e as vitórias e triunfos da Igreja contra ela. Isto posto, ouçamos o texto de S. João. Diz que viu sucessivamente no céu - isto é, no ar - dois sinais, ambos grandes e espantosos: o primeiro tão formoso e alegre, como o segundo feio e formidável. O primeiro, era uma mulher vestida de sol, coroada de estrelas, e que tinha a lua debaixo dos pés: Signum magnum apparuit in caelo: Mulier amicta sole, et lona sub pedibus ejus, et in capite ejus corona stellarum duodecim. - O segundo, era um grande dragão de cor leonada, ou vermelha, o qual tinha sete cabeças, e nelas sete diademas, e dez pontas; e assim soberbo e armado, se penetrou e pôs em campo contra a mulher que estava prenhe, para tragar um filho que dela havia de nascer: Et visum est aliud signum in caelo: et ecce draco magnus rufos, habens capita septem, et cornua decem: et in capitibus ejus diademata septem: et draco stetit ante mulierem, quae erat paritura: ut cum peperisset, filium ejus devoraret [12]. - E quem foram ou haviam de ser esta mulher e este dragão?
Além dos comentadores citados, Cedrino, Zonoras, Genebrardo, Capomzachio, Ludovico Legronense, e outros graves autores, reconhecem no dragão o turco e seu império: dragão venenoso, feroz, e sanguinolento por violência e tirania, e por discórdia e socórdia nossa, formidável no poder, e dominador de tantas províncias, e coroado de tantos reinos. À mulher, posto que com diferente explicação e aplicação, se ouve comumente nomear nos púlpitos; este sentido, na fecundidade das Escrituras, não desfaz nem contradiz a probabilidade de outros, principalmente sendo o mais certo intérprete das profecias o tempo, cujos sucessos futuros, sem desacreditar os passados, se declaram mais nos presentes. E se o autor da História Profética Carmelitana, e os que o seguem, reconhecem naquela mulher prodigiosa a mãe de Elias, vencedor futuro do anticristo, e Aurélio, e outros, a explicam da mãe de Heráclio, vencedor já passado de Cosroas, com muito maior razão a posso eu interpretar da mãe de Estanislau, famoso triunfador, em nossos dias, de todo o poder otomano.
Para que se veja a propriedade do caso, voltemos com a aplicação sobre a mesma história. Primeiramente, a mãe de Estanislau, com aquele santíssimo nome bordado ou esculpido no claustro natural, que desde sua conceição o encerrava e cobria, ninguém pode negar que fosse um grande e prodigioso sinal: signum magnum. Diz o texto que a mesma mulher estava prenhe: In utero habens - e assim era. Diz que o parto desta vizinha esperança havia de ser um filho varão, pouco depois arrebatado ao céu: Peperit filium masculum, qui raptus est ad Deum, et ad thronum ejus (Apc. 12, 5) - e assim o foi Estanislau, na primeira flor da sua idade arrebatado e roubado do céu. Diz que a mulher estava vestida do sol: amicta sole - e este sol era aquele nome de Jesus, o qual, por isso, como sol, estava todo cercado de raios e resplandores. Diz que então apareceu contra ele o dragão formidável: rufas - ameaçando fogo e sangue, soberbo com todas as coroas que tem, e de que é cabeça: In capitibus ejus diademata septem - e armado com todo o poder e fortaleza de seus exércitos: et cornua decem - e estes são os com que o turco invadiu a Polônia. Diz, finalmente, que também a mulher apareceu coroada, e não com coroa tecida das folhas murciais, senão de estrelas: In capite ejus corona stellarum - e assim havia de aparecer coroada pela famosíssima vitória, e com coroa de estrelas, porque a vitória foi do céu, e não da terra.
E para que ninguém duvidasse da verdade do mistério, como se S. João, na base da figura, escrevesse a suma da história, conclui com aquelas poucas e grandes letras: Et luna sub pedibus ejus: que a mulher tinha a lua debaixo dos pés - porque a lua otomana, aquela lua que, ondeando nas bandeiras inimigas, ameaçava um tão grande eclipse à Igreja, ela foi a eclipsada, ela a rebatida e abatida, ela a pisada e metida debaixo dos pés: sub pedibus. - E, posto que a vitória fosse do triunfante filho, libertador da pátria, contudo, o profético Evangelista a atribui à mãe prodigiosa, porque, segundo o texto tão louvado do Evangelho, a glória do filho se deve atribuir à mãe, e ao feliz ventre que em si o trouxe: Beatos venter qui te portavit.
§ III
A segunda mãe de Estanislau: a Mãe de Deus. O oferecimento e o pedido de Estanislau. O caso três vezes maravilhoso com que a Virgem restituiu a Estanislau a vida. Razões pelas quais se prova que a Virgem aceitou a Estanislau por filho. O rito com que a Virgem deu solenemente a posse da sua maternidade a Estanislau e a João. Qual foi afiliação mais perfeita: a de João ou a de Estanislau? O respeito com que o demônio não teve atrevimento para tentar Estanislau na pureza, tendo-o como a menino, e não como a mancebo. Por que a castidade heróica cresce para baixo? Razões por que José do Egito crescia da juventude à adolescência, e da adolescência à puerícia.
A segunda mãe de Estanislau foi a Mãe de Deus. Ofereceu Estanislau à Mãe de Deus um dom grande, e lhe pediu outro maior. O que ofereceu foi a pureza virginal com perpétuo voto; o que pediu foi que a mesma Mãe sempre Virgem fosse mãe sua. Se o alcançou, ou não, aqui pode estar a dúvida. A virgindade que ofereceu, parece que merecia a maternidade que pedia, porque a S. João, entre todos os apóstolos, foi concedida a fraternidade de Maria não por outra prerrogativa, que pela da virgindade: Matrem Virginem virgini commendavit [13]. - Contudo, este exemplo, por ser singular e único, não faz argumento, e, ainda que o fizesse, não é bastante, porque, como notou Salmeirão, daquele texto de São João: Ex illa hora accepit eam discipulus in sua [14] - só se prova que João aceitou a Virgem por mãe, mas não que a Virgem aceitasse a João por filho. E se esta aceitação se pode duvidar de João, quanto mais - dirá alguém - de Estanislau?
Para solução da dúvida, e prova da minha proposição, ouvi um caso maravilhoso, e não maravilhoso com uma só, senão com três maravilhas. Enfermo mortalmente Estanislau em Germânia, entre as últimas respirações da vida, o afligia uma só dor: não de morrer, porque o desejava, mas de morrer sem o Santíssimo Viático, porque a casa era de um herege, que por nenhum modo o quis consentir.
No meio destas devotas angústias ouviu o céu as ansiosas preces de Estanislau, e o socorreu, não com um, mas com três milagres. O primeiro foi que dois anjos, em falta de sacerdote, lhe trouxeram o Pão dos Anjos, e o comungaram por Viático. O segundo, que logo apareceu no mesmo aposento a benditíssima Virgem, e com a só vista sua, toda cheia de divindade, o restituiu da morte à vida. O terceiro que, depondo amorosamente o Menino Jesus, que trazia nos braços, o recostou no mesmo leito em que jazia Estanislau. Retende na memória os dois primeiros milagres, enquanto eu admiro este último, e lhe tiro a conseqüência. O menino Jesus no leito de Estanislau, e Estanislau e o Menino Jesus ambos no mesmo leito? Logo, este foi o ato de posse com que a Virgem aceitou a filiação de Estanislau, e lhe deu a investidura da sua maternidade. Quis a Mãe de Deus que o Menino Jesus e Estanislau, como dois irmãos e dois filhinhos da mesma mãe, repousassem juntamente no mesmo leito, para declarar que desde aquele ponto em diante, um e outro eram seus filhos, e um e outro entre si irmãos.
Não é conseqüência minha, mas de Salomão. Tinha dito a alma santa: In lectulo meo quaesivi quem diligit anima mea [15] - e, continuando sem cessar neste mesmo desejo, em seguimento sempre do que tanto suspirava, rompeu neste amoroso afeto: Quis mihi det te fratrem meum, sugentem ubera matris meae, ut inveniam te (Cânt. 8, 1)! Ó irmão meu, se eu fosse tão feliz, que, depois de vos buscar tantas vezes e com tão ansioso desejo, finalmente vos achasse pendente dos peitos e braços de minha mãe! - Assim dizia, e assim desejava aquela alma; e eu entendo bem o que deseja, mas não entendo como fala. Quer achar o Menino Jesus, e em lugar de dizer: o meu Senhor - diz: o meu irmão: Quis mihi det te fratrem meum? Que-lo achar pendente dos braços e peitos da mãe, e em lugar de dizer: da mãe sua - diz: da mãe minha: Sugentem ubera matris meae? - Sim, porque aquela alma falava desejando, e falava muito coerente ao seu desejo. Desejava achar o Menino Jesus, e o lugar onde o buscava era o seu leito: In lectulo meo quaesivi quem diligit anima mea - e, uma vez que o achasse onde o buscava, uma vez que o tivesse consigo no mesmo leito, já o Menino Jesus era seu irmão: Quis mihi det te fratrem meum? - E já a Mãe do Menino Jesus era mãe sua: Sugentem ubera matris meae. - Logo, bem digo eu, e bem provo, que meter a Virgem o Menino Jesus no mesmo leito com Estanislau, foi aceitar a Estanislau por filho, e dar-lhe solenemente a posse da sua maternidade.
O mesmo rito, ou a mesma solenidade se observou no ato de aceitar por filho a João, não na Cruz, como todos cuidam, senão na Ceia. Na cruz foi publicada a filiação, na ceia foi tomada a posse. E quando? Quando foi admitido João a jazer no mesmo leito com Cristo e a repousar sobre o seu peito. Todos os que lêem a Escritura Sagrada sabem que era uso dos hebreus porem-se à mesa, não assentados, senão jazendo, não em cadeiras como nós, senão em leitos. E que fez S. João? Passou do seu leito ao de Cristo, ali se recostou sobre o seu peito: Recubuit super pectus ejus (Jo. 21, 20). - E aqui tomou a primeira posse de irmão de Cristo e filho de Maria, a qual posse depois foi declarada e publicada na cruz. Esquisitamente Arnoldo Carnotense: Discipulus, qui in Caena Dominica cervical sibi in pectore Magistri aptavit, post illud reclinatorium vices, filii naturalis accepit. - Assim João, e assim Estanislau: João reclinado sobre o peito de Jesus, e Jesus passado dos peitos da Mãe ao peito de Estanislau; e ambos jazendo, não em diferentes leitos, senão no mesmo. Logo, e por isso, João e Estanislau, um e outro irmão de Jesus, um e outro filho de Maria: Post illud reclinatorium naturalis filii vices accepit.
E se alguém me perguntar qual maternidade, ou qual filiação fosse mais perfeita, se a de João ou a de Estanislau, digo que a de João foi mais autêntica, porém a de Estanislau mais perfeita. Quem mais altamente falou de S. João no privilégio de filho da Virgem foi o Cardeal S. Pedro Damião. Chegou a imaginar que as palavras: Ecce filius tuus, ecce mater tua [16] - tiveram a eficácia das palavras da consagração; e como Cristo, nosso Senhor, no mistério da Sagrada Eucaristia consagrou o corpo e sangue recebido da Virgem Maria, assim em S. João consagrou a relação de filho seu; e que, por isso, não contente com dizer: Ecce filius tuus - ajuntou: Ecce Mater tua - porque a relação devia ser mútua e recíproca de mãe a filho, e de filho a mãe; de mãe a filho: Ecce filius tuus; de filho a mãe: Ecce mater tua. Contudo, tal pensamento é mais forte que sólido, porque, para fundar verdadeira relação, não basta só o afeto de mãe a respeito do filho, e o obséquio do filho a respeito da mãe, mas é necessário de mais que a mãe dê verdadeiramente ao filho o ser e a vida. Isto não teve S. João, e Estanislau sim. Lembrai-vos agora dos dois milagres já referidos, que depositei em a vossa memória.
S. João não recebeu o ser e a vida da Virgem Santíssima, Senhora nossa; mas a Virgem é certo que verdadeiramente a deu a Estanislau, porque, estando mais morto que moribundo, e quase espirando, a mesma Senhora, como sua segunda mãe, lhe deu milagrosamente a segunda e nova vida. Até àquele ponto, filho Estanislau da mãe natural, que lhe deu o primeiro ser; daquele ponto em diante, filho da mãe sobrenatural, que lhe deu o segundo.
Agora, entendereis o mistério de uma grande implicância, que se acha em um milagre combinado com o outro. O primeiro foi que os anjos lhe deram o Viático; o segundo, que no mesmo ponto a Rainha dos Anjos, Maria Santíssima, Senhora nossa, lhe restituiu a vida. Já se vê a implicância. Se lhe queria restituir a vida, por que lhe faz dar o Viático? E se lhe dá o Viático para a morte, por que lhe restitui a vida? Porque naquele mesmo ponto acabava Estanislau uma vida, e começava outra. Morria à vida recebida da mãe natural, e por isso se lhe deu o Viático; nascia ao ser recebido da mãe sobrenatural, e por isso se lhe deu a vida. E como Estanislau verdadeiramente recebeu o ser e a vida de Maria Santíssima, Senhora nossa, e João não, por esta circunstância, tão substancial, foi mais perfeitamente filho seu que o mesmo João.
E para que se veja quão bem merecida foi esta filiação, fundada, como a de João, na prerrogativa da pureza virginal, e quão própria de filho da mãe virgem, Santíssima, Senhora nossa, foi anunciada pelo anjo: Turbata est in sermone ejus [17]. - E por quê? Somente porque as palavras da embaixada pareciam contrárias ao voto da sua virgindade. Por isso se perturbou de tal sorte que, para que não desmaiasse, foi necessário que o anjo, chamado Fortitudo Dei, a confortasse, dizendo: Ne timeas, Maria [18]. - E a pureza de Estanislau era tão própria de filho daquela puríssima Mãe, que se alguma vez acaso ouvia alguma palavra menos casta, se perturbava ele também com tal excesso, que subitamente desmaiava e caía amortecido. É exemplo que não se lê de algum outro santo, e tanto mais raro, quanto não foi uma só vez, senão muitas as que lhe aconteceu. Mais. Eram tão divinos os raios de pureza, que resplandeciam no soberano rosto da Mãe de Deus, que, como diz Santo Epifânio, só com ser vista infundia castidade; e foi experiência de muitos, sendo tentados do vício contrário àquela virtude, que só com porem os olhos no rosto de Estanislau, fugia a tentação. Era a vista de Maria Santíssima, Senhora nossa, como a visão de Deus, que faz semelhantes a si aos que o vêem: Similes ei erimus, quoniam videbimus eum [19]. Esta graça que comunicou Deus a sua Mãe, comunicou a Mãe de Deus a seu filho Estanislau.
Mas o que eu mais admiro, é que nunca em toda a sua vida se atrevesse o demônio a o tentar em matéria da pureza, ainda com um mínimo pensamento, privilégio verdadeiramente divino, e muito mais admirável em tal sujeito. Era Estanislau moço, ilustre, e de gentil presença; e estas são as três lanças com que o Joab do inferno fere mortalmente, e todas emprega no peito dos Absalões. Logo, se o demônio se achava tão fortemente armado contra Estanislau, por que o não tenta? Porque era filho da sempre Virgem Santíssima, Senhora nossa. Ao filho primogênito desta grande Mãe tentou o demônio três vezes: a primeira na gula, a segunda na vanglória, a terceira na cobiça; mas, como nota o angélico doutor, Santo Tomás, não o tentou na castidade. E por que motivo ou respeito? Cristo permitiu ser tentado, não por outro fim, que o do nosso exemplo; e o exemplo desta difícil virtude, era o mais necessário à fragilidade humana. Por que não deu logo esta permissão ao demônio em matéria da pureza? Porque era indecente uma tal tentação no Filho de Maria Santíssima, Senhora nossa. Nos outros vícios tentados, mas não vencido; neste vício, nem vencido, nem tentado. Como Filho de Deus: Si Filius Dei es [20]- tentou-o o demônio com todas as outras sugestões; como filho de Maria: Filius hominis - posto que tão descomedido o demônio, não se atreveu a o tentar em tal matéria.
Este foi o respeito por que o demônio não teve atrevimento para tentar a Estanislau na pureza. Mas nem por isso deixou de o tentar em outros modos, uma, duas, e três vezes, como a Cristo.
Revestiu-se de noite de uma fantasma medonha, e apareceu a Estanislau em figura de um monstro fero e esfaimado, que, com uma grande boca aberta, e os dentes arreganhados, ameaçava de o engolir. E que fez Estanislau? Riu-se daquela máscara tão feia, como quem a pintava, e com dois dedos em forma de cruz o fez retirar e fugir. Mas eu lhe quero tomar o passo. - Pára, demônio. Tu não sabes ser tentador. Queres tentar a Estanislau, e o tentas com cocos, como a menino? Tenta-o como a mancebo, com outra figura daquelas de que tu te serves para render aos de sua idade. Tenta-o como a Siquém, como a José, como a Sansão.
Qual é, pois, a razão, por que o demônio não tenta a Estanislau como a mancebo, com figuras deleitosas, que provoquem o apetite, senão medonhas, feias, e fantásticas, como a menino? Porque Estanislau estava convertido em menino, por milagre da castidade heróica. Ouvi uma filosofia desta virtude, que porventura nunca ouvistes. A castidade heróica cresce para baixo. E quanto um homem sobe pela idade, tanto desce pela castidade.
Escreve o texto sagrado a história de José e, antes de ser tentado, lhe chama vir: Erat vir in cunctis prospere agens [21]. - Vai por diante, e quando foi tentado da Egípcia, lhe chama adolescens: Et mulier molesta erat adolescenti [22]; finalmente, chega ao cárcere, onde, já vencedor, padecia pela mesma virtude, e lhe chama puer: erat ibi puer hirebraeus [23]. - Já vedes a dificuldade.
Primeiro se devia chamar puer, depois adolescens, depois vir, mas primeiro vir, depois adolescens, depois puer? Sim, por que José tinha dois modos de crescer: Filius accrescens Joseph, filius accrescens [24]. - Pela idade crescia para cima: puer, adolescens, vir; pela castidade decrescia para baixo: vir, adolescens, puer. - Assim o significou o mesmo José, respondendo à tentadora: Quomodo possum? - Não disse, não quero - senão: não posso - porque aquilo que no homem é livre, no menino é necessário; aquilo que no mancebo é virtude, no menino é impossibilidade: Quomodo possum? - Ao mesmo modo Estanislau. José, como herói da castidade, crescia da juventude à adolescência, e da adolescência a puerícia; e Estanislau, que ainda não chegava à perfeita juventude, crescia da adolescência à puerícia, e da puerícia à infância. E porque o demônio em José tinha já aprendido esta filosofia, que dantes não sabia, desesperado de vencer a Estanislau como mancebo, o tentou como menino. Mas como este menino era irmão do outro, e ambos filho da Mãe Virgem, ambos lançaram fora o espírito imundo.
E merece a mesma Mãe que nós lhe digamos, pela virtude deste segundo filho, o mesmo que lhe foi dito pela virtude do primeiro: Beatus venter qui te portavit.
§ IV
A terceira mãe de Estanislau: a Companhia de Jesus. A peregrinação e os milagres de Estanislau para entrar na Companhia. Os sacrifícios de Estanislau e o sacrifício de Abraão. Que fez Estanislau no noviciado de Santo André em Roma? Muito maior santo foi Estanislau na Companhia, fazendo menos, que no século, fazendo mais, A virtude da obediência, e os ornatos de ouro das orelhas, que Arão pediu aos hebreus para fabricar uma estátua da divindade.
Somos chegados à terceira mãe, e, posto que tarde, já estamos em casa. Depois de Estanislau ter por mãe a Mãe de Deus, parece que não era necessário, nem conveniente, nem decente ter outra.
Mas a mesma Mãe de Deus, por eleição sua, lhe deu a terceira mãe, mandando a Estanislau que entrasse na Companhia de Jesus. Se esta religião não tivera outro louvor, este só bastava para a fazer gloriosa. O Filho de Deus mandou os seus discípulos da sua escola à escola do Espírito Santo: Ille vos docebit omnia quaecumque dixero vobis [26]. - A Mãe de Deus mandou o seu filho amado da sua escola à escola da Companhia.
No mesmo ponto tratou Estanislau de entrar no noviciado de Viena, onde então se achava. E porque não foi recebido, por respeito de seu pai, se deliberou a fugir incógnito, e ir buscar a Companhia em Augusta. Nesta viagem, noto eu que, não fazendo Estanislau milagre algum jamais em benefício próprio, só porvir à Companhia fez milagres. Caminhava ele disfarçado em trajo de peregrino, pobre, só, a pé, e com um bordãozinho na mão, quando de um seu irmão mais velho, e do seu aio, que em uma carroça a seis cavalos o vinham seguindo, foi descoberto em tal passo, que se viu Estanislau como o povo de Israel entre os carros de Faraó e o Mar Vermelho. Diante impedia a passagem um rio, que cortava a estrada; detrás vinha correndo a toda a fúria a carroça de seus perseguidores. Que fará o pobre fugitivo? Como se o bordãozinho de Estanislau fosse a vara de Moisés - mas mais piedosa e mais inocente - a carroça e os cavalos, apesar do cocheiro, e dos repetidos golpes de açoite, pararam imóveis como se fossem de mármore, e o rio passou-o ele por cima da água, a pé seguro e enxuto, como se de uma à outra ribeira fosse continente. Não fez barca da capa, como seu patrício S. Jacinto, porque a não tinha.
Desta maneira, fazendo milagres por se ver na Companhia, chegou Estanislau a Augusta. Mas ainda naquele colégio o não quiseram receber. O mesmo vento que apaga o fogo, se é pequeno, se é grande, o acende mais. Assim cresceu com a contrariedade a constância de Estanislau, e de uma resolução tão grande subiu a outra maior. Resolve vir a Roma com intenção e ânimo firme, se não fosse admiti do em Itália, de passar a França, a Espanha, às índias, e a qualquer parte do mundo até conseguir a Companhia.
Fez Estanislau pela Companhia, o que a Companhia faz por Deus. A profissão da Companhia é servir a Deus em qualquer parte do mundo; e a resolução de Estanislau foi buscar em qualquer parte do mundo a Companhia, para servir a Deus nela.
Agora entendereis a razão ou o artifício por que a Beatíssima Virgem, assinalando a Estanislau a religião que havia de pretender, não lhe assinalou o lugar em que o haviam de admitir. - Mãe santíssima, se mandais a Estanislau que entre na Companhia, por que não lhe assinais a província, o colégio, o noviciado aonde há de entrar? Quis a Santíssima Mãe que o seu filho fosse filho de toda a Companhia, e que, vivendo e morrendo em um só lugar, merecesse e se sacrificasse a Deus em todos. Fez a Mãe de Deus como Deus. Disse Deus ao pai dos crentes: - Abraão, sacrifica-me o teu filho. - E aonde, Senhor? - Super unum montium quem monstravero tibi (Gên. 22, 2): - Em um dos montes, que eu te mostrarei depois. - E por que não assinalou Deus o monte determinado, onde havia de ser sacrificado Isac, isto é, o Monte Mória? Porque quis Deus fazer de um sacrifício muitos sacrifícios, e que, havendo de ser sacrificado o filho em um só monte na execução, no propósito e na intenção fosse sacrificado em todos os montes. Caminhava o animoso pai com o fogo em uma mão, e com a espada na outra; via um monte e dizia: -Aqui é - e não era ali; passava adiante, via outro monte, dizia: - Este é - e não era aquele. E como baixel no meio da tempestade, que cada onda parece que o há de submergir, e lhe perdoa, assim Abraão, subindo e descendo, ia passando de monte a monte, até chegar ao destinado Mória, em que finalmente sacrificou o filho, sacrificado já em todos os outros. Do mesmo modo Estanislau, depois que recebeu o preceito da Mãe de Deus. Em Viena dizia: - Aqui é - e não era Viena; em Augusta dizia: - Aqui é - e não era Augusta. E, posto que o monte destinado para o sacrifício havia de ser o Monte Quirinal, e a ara o noviciado de Santo André, já ele antecipadamente se tinha sacrificado em todas as províncias, e em todas as casas da universal Companhia. Passava à Alemanha, como se passasse à Europa e ao mundo; atravessava o Danúbio, como se atravessasse o Mediterrâneo e o Oceano. E, não tendo ainda lugar na Companhia, pela imensa extensão do seu grande propósito, já tinha entrado, e servia a Deus em todos.
Com esta vastíssima resolução, tendo caminhado a pé, mil e duzentas milhas, chegou Estanislau com o hábito de peregrino e mendigo a Roma, aonde, por fim, entre os braços do padre Geral, S. Francisco de Borja, foi admitido à Companhia nesta casa. O noviciado, já sabeis que é o ventre materno, em que a religião concebe e forma a seus filhos. E que fez Estanislau neste noviciado de Santo André? Esta pergunta dá em terra com todo o meu panegírico. Entrando aqui Estanislau, não fazia mais que o que fazem todos os outros noviços. Não mais do que fazem todos os outros? E para isto lhe mandou a Mãe de Deus que entrasse na Companhia? Quem poderá crer tal coisa? Os demais vêm à religião para ser santos; e Estanislau parece que entrou na religião, ou para deixar de ser santo, ou para ser menos santo do que dantes era. No século é certo que Estanislau vestia ásperos e contínuos cilícios; e aqui não sempre; no século se disciplinava cada dia com cadeias de ferro até derramar o sangue: menos vezes e com menos rigor aqui; no século se levantava sempre à meia-noite a ter oração até a alva: e aqui se levantava também à oração, porém mais tarde, e por menos tempo; no século tinha aquele seu irmão, que pela virtude o afligia e martirizava, como crudelíssimo tirano: e aqui se achou em meio de tantos irmãos, que o tratavam com suma caridade e benevolência.
Logo, veio Estanislau - dirá alguém - à Companhia, não a ser, senão a deixar de ser santo; e se foi santo, e tão grande santo, foi santo no século, e não na Companhia.
Quem assim discorre, não sabe que coisa seja religião, nem que religião seja esta. Muito maior santo foi Estanislau na Companhia, fazendo menos, que no século, fazendo mais: porque na religião, o que diminuía nas obras, multiplicava nas virtudes; o que tirava ao precioso, acrescentava ao preço. Dizei-me: como se lavram os diamantes? Põe-se o diamante na roda, e, tirando-lhe ao diamante partes de diamante, fica o diamante mais polido e lustroso. Por isso pôs a soberana Virgem este diamante nesta oficina. Mas que havia de tirar Estanislau, se era todo santo? A própria vontade, ainda que tão santa. No século era santo, mas santo à sua vontade; e na religião santo, mas debaixo da roda daquela virtude, que é mais própria da Companhia, isto é, a obediência, e por isso muito mais santo. No século merecia no que fazia: na Religião merecia no que fazia e no que não fazia, porque quanto fazia, e quanto deixava de fazer, era por obediência. Com esta arte aperfeiçoou a Companhia a santidade de Estanislau, e aquela virtude, que era já santa, a fez quase divina.
Pediram os hebreus a Arão que lhes fizesse um deus visível. E que respondeu Arão? Tollite inaures aureas de uxorum, filiorumque et filiarum vestrarum, et afferte ad me (Êx. 32, 2): Trazei-me os ornamentos de ouro das orelhas de toda a vossa família. - E para fazer um deus, o ornato das orelhas? Sim. Obrou mal Arão, mas discorreu bem. A orelha, como todos sabem, é o sentido da obediência: In auditu auris obedivit mihi [27]. - Julgou, pois, Arão, que só do ouro, que é ornato daquele sentido, só da matéria da obediência se podia fabricar uma estátua da divindade. A razão é porque aquilo se faz por própria vontade, por mais santo que seja, tem liga de humano; porém, aquilo que se faz por obediência, todo é divino. Falo da perfeita obediência, que é aquela que se ensina nesta escola. Em dois sujeitos está Deus unido ao homem: em Cristo, e no superior. Cristo é Deus e homem, o superior é homem e Deus: Ego dixi: Dii estis. - E qual é maior união, aquela com que está unido Deus ao homem em Cristo, ou aquela com que está unido Deus ao homem no superior? Falo a auditório erudito, o qual bem sabe que aquela união física e hipostática é absolutamente maior que a outra moral. Comparando, porém, de uma parte a física, e da outra a moral, ao propósito, em que eu falo, esta é maior que aquela. E por quê? Porque a união de Deus ao homem em Cristo, admite duas vontades distintas, uma humana, outra divina, de modo, que nem a divina é humana, nem a humana é divina: Non mea voluntas, sed tua fiat [29]. - Porém, a união de Deus ao homem no superior não admite duas vontades distintas, senão uma só, com tal distinção e unidade, que a humana é juntamente divina, e a divina é juntamente humana; porque a vontade de Deus é a vontade do superior, e a vontade do superior é a vontade de Deus; Qui vos audit, me audit [30]. - Daqui é que o que renuncia inteiramente a vontade própria na vontade do superior, já as suas obras não têm nada de humanas, mas em tudo são divinas. E porque esta é a obediência ensinada de Santo Inácio, e praticada nesta primeira escola sua da perfeição, esta foi a razão por que a Mãe de Deus mandou a seu querido filho viesse a esta oficina, escolhendo-a a ela entre todas, não só para aperfeiçoar mais a perfeição de Estanislau, nem só para santificar mais sua santidade, senão também para a divinizar, Tal foi neste noviciado a vida de Estanislau, não de anjo, como todos lhe chamavam, mas de mais que anjo, e verdadeiramente divina.
§V
Por que a Mãe de Deus concedeu tão pouca vida a Estanislau na Companhia? O milagre da morte e a brevidade da vida de Estanislau. Estanislau, aborto da grande mãe, a Companhia de Jesus. Por que foi abortivo S. Paulo, e por que foi abortivo Estanislau?
Somente - com isto acabo - se pode duvidar, e com grande admiração: se a Mãe de Deus mandou a Estanislau à Companhia para purificar, para refinar, e para santificar mais a sua santidade, por que lhe concedeu tão pouca vida na mesma Companhia? Corria o décimo mês do seu noviciado, e era o dia de S. Lourenço, quando Estanislau, com a meditação daquelas chamas, se sentiu acender mais ardentemente daquele fogo divino, que sempre o abrasava. Era tão forte o incêndio que, passando muitas vezes da alma ao corpo, o arrancava da terra, e levantava no ar, ou lhe inflamava o coração, o peito e o rosto com um fogo tão sensível e tão vivo, que era necessário ser socorrido com banhos de água fria, para que não se abrasasse totalmente, e se convertesse em um carvão seráfico, como aquele de Isaías. Vencido, finalmente, e arrebatado deste incêndio, toma Estanislau a pena, escreve uma terníssima carta à sua segunda Mãe, na qual lhe representava a força já intolerável de seus desejos, e lhe suplicava o chamasse ao céu à vizinha festa de sua gloriosa Assunção. Caso miraculoso, e verdadeiramente suavíssimo! Encomenda a carta ao mesmo S. Lourenço, para que a ponha em mãos de sua Mãe; persevera são até os catorze do mesmo mês, e ao amanhecer do dia seguinte, como já tinha predito, foi assunto à festa da Assunção. Assim deixou Estanislau o noviciado e a Companhia, que este paraíso só se podia deixar por aquele paraíso, e esta mãe só por aquela Mãe. Porém, eu não admiro tanto o milagre da morte, quanto a brevidade da sua vida. Para tão poucos dias é mandado Estanislau à Companhia? Para tão poucos dias, tanto aparato de aparições, de dificuldades, de peregrinações, de perseguições, de milagres? Sim, para tão poucos dias. Porque era conveniente assim, tanto para a glória do filho, como para a glória da mãe. O filho miraculoso em se aperfeiçoar, a mãe miraculosa em o parir, ambos em tão breve tempo.
Notáveis foram o primeiro e último milagre de Cristo. No primeiro converteu a água em vinho; porém, isto é o que faz a vide. Chove água do céu, e a vide a converte em vinho. No último milagre, e o maior de todos, converteu o pão e o vinho em carne e sangue; e isto é o que faz o corpo humano. Come pão e bebe vinho, e o converte em carne e sangue. E, posto que esta não é transubstanciação - maravilha própria somente daquele altíssimo mistério - é verdadeira conversão. Pois, se a natureza na vide converte a água em vinho, e no corpo humano converte o pão e o vinho em carne e sangue, estes por que razão não hão de ser milagres? Pela diferença do tempo. A natureza, porque há mister introduzir as disposições pouco a pouco, obra depois de largo tempo; mas se aquilo mesmo que a natureza faz depois de muito tempo, se fizesse em brevíssimo, já não seria obra da natureza, senão milagre da onipotência. Assim sucedeu em Estanislau, e tanto com maior milagre, quanto a graça é superior à natureza.
A natureza, para formar um elefante, o traz dois anos no ventre da mãe. E Santo Inácio, que queria formar sujeitos grandes, não se contentou com um ano: instituiu dois de noviciado, e depois o terceiro. A estes espaços se havia de ir aperfeiçoando Estanislau pouco a pouco, se a graça houvesse de obrar conatural mente; porém, como a onipotência queria sair ao mundo com um grande milagre da mesma graça, o que havia de fazer em muitos anos, fez em poucos meses. Ó bem-aventurado e milagroso filho! Ó bem-aventurada e milagrosa mãe! O filho milagroso em se aperfeiçoar sem tempo; a mãe milagrosa em o parir antes do tempo. Da mãe do Batista diz o Evangelho: Impletum est tempus pariendi, et peperit [31]. - E da mãe de Estanislau podemos dizer com Isaías: Antequam parturiret, et peperit
Sabeis, senhores, que coisa foi Estanislau, este moço tão santo, este noviço tão divino? Não foi outra - deixai-mo dizer assim - não foi outra coisa que um aborto daquela grande mãe. Abortou a Companhia o primeiro parto, e pariu um filho morto, que já tem ressuscitado seis mortos. Da infinidade de outros milagres não quero falar. S. Paulo diz de si que foi aborto de Cristo: Novissime tanquam abortivo, visus est et mihi [33]. - E por que foi abortivo S. Paulo? Porque os outros apóstolos tiveram o noviciado da escola de Cristo, não só de dois anos, senão também de três; e S. Paulo, começando o noviciado em Damasco, abreviando-se-lhe o tempo, foi acabar no paraíso, e da escola de Ananias passou à do céu. Assim o diz Santo Tomás, e o colige, em boa cronologia, das palavras do mesmo apóstolo: Ante annos quatuordecim [34]. - Abortivo Paulo, e abortivo Estanislau: Paulo, da primeira companhia de Jesus; Estanislau da segunda, e ambos glória de uma e outra mãe. Bem-aventurada, pois, a terceira e última mãe de Estanislau, bem-aventurada a Companhia de Jesus pelo primeiro dos seus beatos, e bem-aventurada esta casa, pelo primogênito de seus filhos, e não bem-aventurada porque chegou a o parir, mas bem-aventurada, e mil vezes bem-aventurada, só porque o trouxe em seu ventre: Beatus venter qui te portavit.
§ VI
Oração final em favor de el-rei D. João, o Terceiro. O poder das relíquias de Estanislau na Polônia. O que deve Estanislau à primeira mãe, o que lhe pede continuamente a terceira, e o que lhe concederá sem dúvida a segunda.
Estanislau meu, já tenho acabado, e a minha oração, cansada do pouco que se tem adiantado em vossos louvores, humildemente se põe a vossos pés, não perorando, mas orando. O memorial que vos apresento é breve, e não meu, senão desta vossa mãe, que tanto amastes sempre. O que vos suplica vossa terceira mãe, é que, diante do trono da segunda, vos lembreis de presente que sois filho da primeira. Aquele grande dragão, já duas vezes vencido de vós, agora enfurecido e contumaz, levanta a cabeça, infesta e ameaça a vossa Polônia. Em campanha está o Marte daquele grande reino, e, posto que laureado de tantos triunfos, e seguido de fortíssimo e florentíssimo exército, e, sobretudo, acompanhado de si mesmo, sem vós se tem por só.
Está, digo, na campanha el-rei João, o III, cuja espada, como a de Gedeão, é de Deus juntamente, e sua: Gladius Domini et Gedeonis [35]. - Enquanto sua, não menos que a do grão-Macabeu, confia mais em vossa ajuda que em seu próprio valor. Vós sois o seu Jeremias defunto e vivo, de quem confessa com piedade cristã, e verdadeiramente real, o que do outro dizia Onias: Hic est fratrum amator, hic est qui multum orat pro populo [36], - Na batalha e vitória memorável do ano passado, no campo de Cocim - na qual o mesmo rei deu o reino ao reino, antes que o reino lhe desse a coroa - ele foi o capitão, e vós o vencedor.
Assim o confessa Sua Majestade, que vos escolheu por patrono, primeiro daquela jornada, e depois de todo o reino.
Assim o escreveu à Santidade de nosso senhor Clemente X, suplicando-lhe confirmasse o seu patrocínio. E assim o provastes vós, rendendo-se Cocim no mesmo dia vosso, hoje faz um ano, Isto é, ó novo e glorioso protetor da vossa pátria, isto é o que tendes feito, e esta a suma da nossa súplica: Quod facis, fac: Prossegui, imitai-vos a vós mesmo, e como sois a todos admiração, sede a vós mesmo exemplo. Se aquele bárbaro infesta a Polônia, e na Polônia ameaça o mundo, defendei vós a muralha universal do Cristianismo; e se a soberba da sua meia-lua traz por mote: Donec totum impleat orbem [37] - seja a alma de vossa empresa: Donec auferatur luna [38].
Mas para que rogo eu e exorto a Estanislau, se ele tem empenhado a sua cabeça em defensa da sua pátria, e a este fim desfez um milagre para fazer muitos? Duas vezes foi aberto o sepulcro de Estanislau: a primeira, se achou o seu corpo incorrupto e inteiro, prêmio devido à sua pureza; a segunda - e foi ao tempo quando a Polônia mandou pedir a sua cabeça, se acharam os ossos despidos da carne, e soltos. E que razão haveria - direis vós - para cessar o primeiro milagre? Não para que tivesse fim, não; senão para que se multiplicasse em outros maiores, e mais proveitosos ao mundo.
Para que nos ossos de Estanislau, repartidos pelo mesmo mundo, se semeasse neles o remédio, a saúde, e a vida dada por seus merecimentos a tantos, e, principalmente, para que pudesse passar a Polônia a sua cabeça, como o maior e mais poderoso socorro que lhe podia mandar a cabeça do mundo. Ó ditosa pátria, ditoso reino, ditoso rei!
EI-rei Jorão, sitiado de Senaqueribe, e do potentíssimo exército dos assírios, ameaçou que havia de tirar a cabeça a Eliseu, porque não fazia levantar o sítio com suas orações: Haec faciat mihi Deus, et haec addat, si steterit caput Elisei super ipsum hodi [39]. - E o sucesso foi que Eliseu, por livrar sua cabeça, levantou o sítio no mesmo dia.
Não assim Estanislau, senão que ele mesmo se tirou a si a cabeça, e nela se levou a si à sua pátria, para salvar o seu rei e ao seu reino. Segura pois, está, e estará a Polônia, enquanto este Eliseu ajudar o seu Jorão. Tendo-se pedido licença a el-rei D. Manuel de Portugal, chamado o Conquistador, para que pudessem ser trazidos da índia ao sepulcro dos seus maiores os ossos do grande Albuquerque, a negou, dizendo, que enquanto estivessem em Goa os ossos de Albuquerque, estaria seguro o Oriente. E com quanta maior razão posso eu esperar e prometer que, enquanto as relíquias de Estanislau estiverem em Polônia, está seguro o rei, seguro o reino, e segura a muralha da cristandade?
Isto deve Estanislau à primeira mãe; isto lhe pede continuamente a terceira; e isto lhe concederá, sem dúvida, com seu potentíssimo braço, a segunda. E por isso, enfim, será ele também sempre louvado em todas as suas três mães, e por todas três se lhe cantará, com aplauso concorde do céu, da pátria e de todo o resto do mundo: Beatus venter qui te portavit.
Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística
[1] Bem-aventurado o ventre que te trouxe (Le. 11, 27).
[2] Mãe dos viventes (Gên. 3, 5).
[3] O primogênito dos mortos (Apc. I , 5).
[4] Nome que o Senhor nomeará pela sua boca (Is. 62, 2); nome que o Senhor há de esculpir pela sua boca (Vers. hebr.)
[5] Como lhe tinha chamado o anjo, antes que fosse concebido no ventre de sua mãe (Le. 2, 21).
[6] Que é sobre todo o nome (FIp. 2, 9).
[7] Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho (ibid. 10).
[8] Porque ele é aquele em quem Deus Pai imprimiu o seu selo (Jo. 6, 27).
[9] Viu todas as coisas que tinha feito, e eram muito boas (Gen. 1, 31).
[10] O Senhor criou uma coisa nova sobre a tenra (Jer. 31, 22).
[11] Apareceu um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, que tinha alua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça (Apc. 12,1).
[12] E foi visto outro sinal no céu: e eis aqui um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez cornos, e nas suas cabeças sete diademas; e o dragão parou diante da mulher que estava para parir, a fim de tragar ao seu filho, depois que ela o tivesse dado à luz (ibid. 3 s.).
[13] Recomendou a Mãe Virgem a um virgem (S. Hier.).
[14] Desta hora por diante a tomou o discípulo para sua casa (Jo. 19, 27).
[15] Busquei no meu leito aquele a quem ama a minha alma (Cânt. 3. 1).
[16] Eis aí teu filho, eis aí tua mãe (Jo. 19, 26 s).
[17] Turbou-se do seu falar (Lc. 1, 29).
[18] Não temas, Maria (ibid. 30).
[19] Seremos semelhantes a ele, porque nós outros o veremos (1 Jo. 3, 2)
[20] Se és Filho de Deus (Lc. 4, 3).
[21] Era um varão ao qual tudo quanto obrava lhe sucedia prosperamente (Gên. 39, 2).
[22] Era a mulher molesta ao mancebo (ibid. 10).
[23] Achava-se ali um menino hebreu (Gên. 41, 12).
[24]José, filho que cresce, filho que se aumenta (Gên. 49, 22).
[25] Como, pois, posso eu (Gên. 39, 9)?
[26] Ele vos ensinará todas as coisas que vos tenho dito (Jo. 14, 26).
[27] Ao ouvir a minha voz me foi obediente (SI. 17, 45).
[28] Eu disse: Sois deuses (SI. 81, 6).
[29] Não se faça a minha vontade, senão a tua (Lc. 22, 42).
[30] O que a vós ouve, a mim ouve (Lc. 10, 16).
[31] Completou-se-lhe o tempo de parir, e pariu (Le. l, 57).
[32] Antes que tivesse dor de parto, pariu (Is. 66, 7).
[33] Ultimamente, foi também visto de mim como de um abortivo (1 Cor. 15, 8).
[34] Catorze anos há (2 Cor. 12, 2).
[35] A espada do Senhor e de Gedeão (Jz. 7, 20).
[36] Este é o amigo de seus irmãos, que ora muito pelo povo (2 Mc. 15, 14).
[37] Até que todo o mundo esteja cheio.
[38] Até que seja tirada a lua. (Sl. 71, 7).
[39] Deus me trate com todo o seu rigor, se a cabeça de Eliseu lhe ficar hoje sobre os ombros (4 Rs. 6, 31).
Fonte: UFSC
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