26 de dezembro de 2013

Por que tanta gente se esforça para negar a existência do inferno?

                 Em primeiro lugar, por interesse. A maior parte dentre esse esforçados deseja que o inferno não exista. São como os ladrões que, se pudessem, destruiriam a polícia, porque todas as pessoas que <<sentem os encargos>> estarão sempre a fazer o possível e o impossível para se persuadirem de que o inferno não existe, pois bem sabem que, havendo um, sua utilidade é exatamente para pessoas como eles.  Não são diferentes dos covardes que, cantando toda voz numa noite escura, tentam se convencer de que não sentem o medo que os ataca. Para se encher mais ainda de coragem querem persuadir aos outros de que o inferno não existe. Por isso escrevem esses livros se pretendem científicos e filosóficos, e neles repetindo a todo momento, para com a grita, pretendem convencer uns aos outros - e graças a esse espetáculo barulhento, concluem que ninguém mais acredita e, por consequência, que têm o direito de não acreditar.

                 A maioria destes foram, no último século, os líderes de incredulidade voltairiana; (Volteire 1694 - 1778), os que tentaram proclamar que Deus não existia e, portanto, também não existia o paraíso ou o inferno. Estavam seguros nas sua conjecturas, embora a História tenha nos mostrado que, um após o outro, tomados por um terrível pânico na hora da morte, retrataram-se, confessaram-se, pediram perdão para Deus e aos homens. Um dentre eles, Diderot, escreveu após a morte de d'Alembert:<<Se eu não estivesse lá, ele teria se curvado como todos os outros>>. Pouco adiantou, porque ele mesmo, na sua hora derradeira acabou suplicando para que lhe chamassem um padre.¹*
              Todos sabem como Voltaire no leito de morte, insistiu para que chamassem o padre da igreja do Santo Sulpício, porém, seus seguidores o cercavam tão bem, que o padre não podia chegar ao velho moribundo que morreu em meio a um ataque de raiva e desespero. Ainda existe, em Paris, o quarto onde se passou a trágica cena.²*
              Enfim, até os que bradam contra o inferno, crêem nele da mesma maneira que nós. Quando a morte se aproxima, caem-se as máscaras e já podemos ver bem o que se encontra por debaixo delas. Por isso, não  dê ouvidos a esse raciocínios que são apenas ditados pelo medo. Pois é o coração corrompido que faz negar a existência do inferno. Quando não queremos deixar a vida de impiedades, que é o caminho mais curto para lá, sempre somos levados a dizer ou mesmo crer que o inferno não existe.
              Imaginemos um homem cujo coração, sensos, imaginação e hábitos de cada dia estão presos, absorvidos por um amor culpado - e a tudo isto ele se entrega, tudo sacrifica. Se a ele falarmos do inferno, seria como falar a um surdo. E mesmo que às vezes a vos da consciência e da fé perpassem pelos gritos da paixão, ainda assim, ele se calará, não desejando mais entender a verdade que se impõem.
 
              Tentamos, então, falar do inferno a esses jovens libertinos que freqüentam a maior parte das nossas escolas, das nossas fábricas e engenhos ou de nossos quartéis: eles responderão estremecidos de cólera, com um escárnio diabólico, que é muito mais poderoso dentre eles do que todos os argumentos da fé e do bom senso. Eles não querem que haja um inferno!
               Não faz muito tempo, encontrei-me com um desses. Ele ainda carregava um pouco de fé e o aconselhei da melhor forma possível para que não desonrasse a si mesmo da maneira como fazia. Tentei convencê-lo a viver como um cristão, enfim, com um homem e não como um animal. <<Tudo isso é belo e bom - respondeu-me -, e talvez seja verdade o que me dizes. Mas o que sei é quando essas coisas me tomam, fico como um louco e não sou capaz de entender mais nada. Fico cego e não há Deus nem inferno que me faça parar. Se há realmente um inferno, pois bem, para lá irei, a mim não faz diferença.>> Infelizmente, nunca mais o vi.
           Mas e quanto aos gananciosos, os usurários e os trapaceiro? Quais argumentos irresistíveis eles devem guardar em seus cofres contra a existência dos inferno! Ricos argumentos contra a idéia de devolver o que eles tomaram dos outros, contra apartarem-se de seus ouros e riquezas.
 <<Antes mil mortes; antes o inferno, ainda que exista um>> - dizia-me um velho usurário normando, avarento por lucros rápidos, que mesmo em face da morte não conseguia abrir mão  do que dos outros tirou. Ele havia consentido, não se sabe como, restituir consideráveis somas, porém, não fez mais do que devolver oito francos e meio. E o infeliz ainda morreu sem os sacramentos. No seu coração de avarento, míseros oito francos e meio eram suficientes para fazer com que o inferno desaparecesse.
              Do mesmo modo se dá com todas as paixões violentas: o ódio a vingança, a ambição e certas exaltações de orgulho. Seus portadores não querem ouvir falar do inferno. Colocam tudo em jogo para negar sua existência, pois já não têm nada para perder. Mas quando todas essas mesmas pessoas são colocadas contra a parede, quando encaram qualquer  umas dessas razões de bom senso acima resumidas, elas passam a rejeitar a morte, esperando, deste modo, escaparem vivas. Pensam e dizem que acreditariam no inferno se qualquer morto ressuscitasse diante deles e afirmasse que, de fato, esse lugar existe. Pura ilusões, as quais Nosso Senhor Jesus Cristo se deu o trabalho de desfazer, como veremos a seguir.
---------------
Notas:
Extraído do Livro "O Inferno(se existe*o que é* como evitá-lo)" Monsenhor de Ségur editora ECCLESIAE. pp. 53-57.

*1 No livro Mémoires pour servir à La histoire du Jacobinisme(v. I - 1797,pp. 382), o padre jesuíta Augustin Barruel relata que, em verdade, foi Condorcet que se esforçou a evitar que um sacerdote se aproximasse do já moribundo d'Alembert, proferindo a extravagante frase logo após a sua morte;<<Se lá eu não estivesse, ele teria se curvado>>. Também anota que com tal frase, ainda que sem querer, Condorcet revelou os remorsos pelos quais d'Alembert fora acometido em meio aos seus suspiros finais.
 Quando á Diderot, um dos seus biógrafos, F. Génin, baseado nos fatos narrados pela filha do escritor, Angélique de Vandeul (Euvres choisies de Diderot précédées de sa vie, Firman Didot, Paris, 1869, pp.62), nos diz que, após alguns encontros com um padre da igreja de São Sulpício de Paris, ele passou a ler a Bíblia com sua filha, além  de permitir que ela tivesse a sua educação guiada por religiosos. No livro do padre Barruel também consta a narrativa dos últimos dias de Diderot (Barruel op. cit., pp.383-387); conta-nos que o enciclopedista prepara uma retratação pública  por seus ataques mais uma deserção, seus compagnous de route levaram-no para longe do padre da igreja de São Sulpício.
*2 Também o mais famoso iluminista, Volteire, suplicou para que um padre estivesse presente quando se aproximava de seus momentos finais. O sacerdote da igreja de Santo Sulpício conseguiu chegar ao velho moribundo. É o que revela a revista dos ilustrados franceses, Correspondence Littéiraire embaraço, a profissão de Fé escrita e assinada por Voltaire: << - Eu, o que escreve, declaro que, na idade de oitenta e quatro anos e tendo sofrido com vômitos de sangue faz quatro dias, não pude ir à igreja; assim, o pároco de São Súlpicio quis de bom grado me enviar o sacerdote M. Gautier. Eu com ele me confessei, e se Deus assim quiser, morro na santa religião Católica em que nasci, esperando que, com a misericórdia divina sejam perdoados todos os meus pecados; e se tenho escandalizado a Igreja, peço perdão a Deus e a ela. Assinado: Voltaire, 2 de março de 1778 na casa do marquês de Villete, na presença do padre Mignot, do meu sobrinho e do meu amigo, senhor marquês de Villevielle>>.
 No entanto, ainda no livro do padre Barruel (op.cit. pp. 379-380), d'Alembert e Diderot, liderando outros vinte 'conjurados', impediram que o padre Gautier fizesse nova visita nos momentos finais de Voltaire. Seus últimos suspiros foram narrados pelo seus médico, M.Tronchin, que disse ter visto a mais terrível imagem de um ímpio agonizando, e que << os remorsos de Orestes dão apenas uma idéia dos remorsos de Volraire>>. Em sua agonia desespero, o iluminista sentia-se <<abandonado por Deus e pelos homens>>, passou a insultar seus amigos iluministas e numa cena miserável, padeceu evocando e blasfemando o nome de Jesus Cristo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, o seu comentário está sujeito a moderação. Se sua opinião é contrária a este artigo, seja educado ou seu comentário será apagado.

Em JMJ,
Grupo São Domingos de Gusmão.