8 de janeiro de 2011

Utilidade da religião

  Hoje ouve-se dizer frequentemente: A religião é um negócio privado, e portanto acessório. Os que assim falam pensam igualmente que a instrução religiosa é menos importante que o ensino da leitura, da escrita e do cálculo; mas estas opiniões são inteiramente falsas; a religião é antes de tudo o negócio principal e o bem mais útil e mais necessário à vida.

A religião é uma luz divina para a nossa inteligência
  A religião é uma luz divina. Os conhecimentos que ela nos dá estão acima de todos os conhecimentos terrenos, e tais conhecimentos vêm-nos do céu, isto é, são revelados por Deus. A religião é pois isso uma luz para a nossa inteligência, porque nos revela o fim da vida e o caminho que para lá nos conduz. Quem tem religião é como o viajante que leva a luz por entre as trevas; quem a não tem perde-se na escuridão. Desse diz a Sagrada Escritura: “Está assentado nas trevas e à sombra da morte” (Is. IX, 2; S. Luc. I, 79); tem olhos e não vê; é um cego. Também o Salvador que nos trouxe a verdadeira religião se chama a luz do mundo: “Eu sou, diz Ele, a luz do mundo: aquele que me segue não anda nas trevas” (S. João VIII, 12). Eis a razão por que no seu nascimento se viu aparecer uma luz sobre os campos de Belém, e no seu uma estrela de resplandecente clarão; é também por essa razão que à Missa se alumia o altar com velas: significam elas que sob a aparência de pão e vinho a “luz do mundo” está sobre o altar; é pelo mesmo motivo que arde uma lâmpada junto do tabernáculo: indica a presença da “luz do mundo”. Na Missa cantada levam-se também duas velas acesas para o lado do missal quando se canta o Evangelho, para significar que pela doutrina de Jesus Cristo, pelo Evangelho, a nossa inteligência recebe a verdadeira luz. Também não é sem motivo que a Igreja manda tocar três vezes o sino em tempo diferentes: Antes do nascer do sol, depois do sol posto, e ao meio dia; com isto nos recorda que a “luz do mundo”, o Filho de Deus, se fez homem e durante trinta e três anos viveu no meio de nós. É pelo mesmo motivo que Jesus Cristo quis nascer na época em que os dias começam a aumentar, para nos fazer conhecer que a “luz do mundo” era chegada. Constroem-se também igrejas na direção do Oriente para que o sacerdote ofereça o Santo Sacrifício olhando o sol nascente, afim de que as igrejas sirvam de glorificação àquele que é a luz do mundo. Quem tem religião é verdadeiramente ilustrado; quem a não tem é retrógrado, embora se julgue muito esclarecido.

A religião dá à nossa vontade uma força sobre-humana para praticar ações nobres e domina as más inclinações

  A religião é como uma alavanca. Com este instrumento uma criança pode levantar faros muito pesados; também a religião dá ao homem fraco a força de praticar atos sobre-humanos: veja-se, por exemplo, um missionário que vive em países infiéis no meio de perseguições e perigos contínuos para a sua vida, e trabalha na salvação do próximo sem esperança duma recompensa terrena. Em tempo de doenças contagiosas não se vêem muitas vezes os doentes abandonados pelos próprios parentes, e visitados pelos sacerdotes, religiosos e pessoas piedosas? Quem lhes dá tanta coragem? É a religião, que lhes diz: “O que fazeis ao vosso próximo, a Deus o fazeis. Vós recebereis um dia a recompensa eterna do céu, etc.”. E quem dá aos mártires força para sacrificarem os seus bens e a própria vida antes que praticarem o mal? É ainda a religião, que nos diz: “Deus tudo sabe. Depois da morte vem o juízo, e depois a recompensa merecida. Havemos de ressuscitar um dia, etc.”. A religião contribui mais que a polícia para a manutenção da ordem no Estado; por isso com razão se pode dizer: A polícia mais bem organizada não pode substituir a influência da mais rudimentar escola de catecismo; na verdade a polícia e o poder civil nada podem fazer senão quando há crime externo, a religião pelo contrário faz-nos proceder corretamente, ainda quando as vistas humanas não nos perscrutam: ensina-nos que um dia, no tribunal de Deus, deveremos dar conta até dos nossos pensamentos. É portanto a religião que faz o homem consciencioso. Que entusiasmo não inspira ela aos homens! Que coragem lhes dá para a defesa da sua pátria! Recordem-se as cruzadas, na Idade Média; André Hofer, herói cristão que socorreu Viena em 1683, etc. Alguns pensadores pretenderam melhorar o homem com o simples ensinamentos dos seus deveres, mas este ensinamento só se baseia em motivos naturais, como o receio de perder a estima dos homens, o medo da polícia, etc. No momento da tentação tais motivos desaparecerão como um monte de neve aos raios de sol.

A religião consola-nos na desgraça e salva-nos do desespero
  A religião tem o mesmo efeito que o óleo, acalma a dor e cura as feridas. Job, Tobias e tantos outros suportaram pacientemente os sofrimentos porque a religião lhes fazia dizer: “Deus é nosso Pai; ele não nos sujeitará a provações que nós não possamos suportar. Quando a aflição aumentar, o seu auxílio estará mais perto de nós; e Deus pode fazer que tudo redunde em nosso bem”. Os suicídios, por motivos fúteis, são tão freqüentes porque falta a religião e com ela a resignação. O homem com a religião é como o carvalho com fundas raízes, que desafia as tempestades; sem religião é como a cana vacilante. A religião é como uma âncora que no meio da tempestade salva o navio do naufrágio; (1) sem religião o homem assemelha-se ao náufrago. Com razão o general Laudon: “Na desgraça e no perigo as pessoas sem religião são as mais covardes, sem coragem nem energias”.

A religião proporciona ao homem a verdadeira satisfação
  A religião é para a alma o que o alimento é para o corpo; com a diferença de que o alimento material só satisfaz o corpo por um certo tempo, ao passo que a religião satisfaz a alma para sempre. Quem não tem religião parece-se com um faminto; a ele se adaptam as palavras de S. Agostinho: “Criastes-nos, Senhor, para vós; e nosso coração está inquieto enquanto não descansa em vós”. O homem sem religião é como um peixe fora da água, que salta, contorce-se, enrola-se, apesar do alimento que lhe põem diante; quer voltar à água que é o seu elemento, só ali ele goza de vida: assim é o homem que se afasta de Deus (Deh.). Por isso se vê em certas pessoas que Deus cumulou de muito bens temporais, e até em homens de grande ilustração, sentirem-se assaz desgostosos, e mostrarem nas suas conversações e cartas o descontentamento e tédio que os invade. O próprio Goethe (nas suas conversações com Eckermann) confessava que durante os seus 75 anos de vida poucos dias tivera feliz. “Toda a minha vida, dizia ele, me parece ter sido o rodar de penedo”. E Schiller escrevia a Körner: “Tenho necessidade de o visitar; só estarei satisfeito junto de si: nunca o estive em minha vida”. Alexandre de Humbolt fez a mesma confissão: “A ciência não dá nem repouso nem contentamento”. Portanto riqueza, honras, ciência, por si só não são capazes de satisfazer o homem e fazê-lo ditoso; só a religião tem este poder. Os profetas chamaram a Jesus Cristo o príncipe da paz, porque a sua doutrina é a única que sossega o nosso espírito (is. IX, 6); por isso no seu nascimento os anjos anunciaram a paz aos homens (S. Luc. II, 14). Jesus Cristo costumava saudar os apóstolos com estas palavras: “A paz seja convosco” (S. João XX, 19) e aos seus discípulos promete e paz como recompensa da fidelidade deles em aceitar e seguir a sua doutrina, quando lhes diz: “Eu vos dou a minha paz, mas não é como o mundo a dá que eu vo-la dou” (s. João XIV, 27), e mais adiante: “Aceitai o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e achareis repouso para as vossas almas” (S. Mat. XI, 29). Muitos homens experimentaram os mesmos sentimentos que S. Justino, o filósofo: estudou todos os sistemas filosóficos do seu tempo e nenhum o pode satisfazer; só a religião cristã deu ao seu coração o descanso por que suspirava (foi martirizado em 166).

  Quem tira a religião ao seu próximo é mais bárbaro que um assassino, porque o arrasta ao desespero, ao suicídio e à morte eterna.

  Aquele que arranca a religião ao próximo é mais cruel que o que tira a luz a um viajante que caminha na escuridão e o expõe a graves acidentes e até à morte, visto que o homem que perde a religião perde mais do que a vida corporal.

 Catecismo Católico Popular – Francisco Spirago

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