2 de novembro de 2011

2 de novembro - FINADOS

Dia dos Fiéis Defuntos

No dia 2 de Novembro, lembramos as almas daqueles que, tendo a certeza da salvação, encontram-se ainda no Purgatório, a purificarem-se dos vestígios do pecado, para poderem depois, com as suas almas imaculadas, apresentarem-se diante de Deus e com Ele viverem para todo o sempre.


"Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para não suceder que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão. Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo." (Mt 5, 25-26).

Jesus estava a falar aos Apóstolos a respeito das punições que esperam os pecadores após a morte. Antes se referira ao fogo da Geena - o Inferno -, uma prisão perpétua, eterna. Mas aqui Ele fala de um cárcere do qual se poderá sair, desde que seja pago o débito, até o último centavo.
Essa prisão temporária, um estado de purificação para os que morrem cristãmente sem terem atingido a perfeição, é o Purgatório. Lugar misterioso, mas onde reina a esperança e os gemidos de dor são entremeados por cânticos de amor a Deus.

A origem desta celebração está na famosa abadia de Cluny, quando seu quinto Abade, Santo Odilon, instituiu no calendário litúrgico cluniacense a "Festa dos Mortos", dando especial oportunidade a seus monges de interceder pelos defuntos, ajudando-os a alcançarem a bem-aventurança do Céu.

A partir de Cluny, essa comemoração foi-se estendendo entre os fiéis até ser incluída no Calendário Litúrgico da Igreja, tornando- se uma devoção habitual, em todo o mundo católico.

Sabemos que a Igreja Católica é una. É o que rezamos no Credo.
Entretanto, os membros da Igreja não estão todos aqui, entre nós, mas em lugares diversos, como diz o Concílio Vaticano II. Alguns "peregrinam sobre a terra, outros, passada esta vida, são purificados, outros, finalmente, são glorificados" (Lumen Gentium, 49).

Entre a terra e o Céu não é raro acontecer, no itinerário da alma fiel, um estágio intermediário de purificação. Segundo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, por aí passam "os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão perfeitamente purificados".
Por isso "passam, após sua morte, por uma purificação, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do Céu" (nº 1030).

Esse estado de purificação nada tem a ver com o castigo dos condenados ao Inferno, pois as almas do Purgatório têm a certeza de haver conquistado o Céu, mesmo que sua entrada ali tenha sido adiada por causa de seus resíduos de pecado.

A primeira epístola aos Coríntios faz referência ao exame a que serão submetidos os cristãos, os quais, havendo recebido a Fé, devem continuar em si a obra de sua santificação. Cada um será examinado no respeitante ao grau de perfeição que atingiu:

"Se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá.
O dia (do julgamento) demonstrá- lo-á. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo" (1Cor 3, 12-15).

"Ele será salvo", diz o Apóstolo São Paulo, excluindo o fogo do Inferno, no qual ninguém pode ser salvo, e se referindo ao fogo temporário do Purgatório. Comentando este e outros trechos da Sagrada Escritura, a Tradição da Igreja nos fala do fogo destinado a limpar a alma, como explica São Gregório Magno em seus Diálogos:

"Com relação a certas faltas leves, é necessário crer que, antes do Juízo, existe um fogo purificador, como afirma Aquele que é a Verdade, ao dizer que, se alguém pronunciou uma blasfémia contra o Espírito Santo, essa pessoa não será perdoada nem neste século nem no futuro (Mt 12, 31). Por essa frase, podemos entender que algumas faltas podem ser perdoadas neste século, mas outras no século futuro".

Por que existe o Purgatório?

Será Deus tão rigoroso a ponto de não tolerar nem mesmo a menor imperfeição, limpando-a com penas severas? Esta pergunta facilmente pode nos vir à mente. Estaremos diante de um Juiz sumamente santo e perfeito, e em seu Reino "não entrará nada de profano" (Ap 21, 27). Com efeito, na presença de Deus, de sua Luz puríssima, a alma percebe em si mesma qualquer pequeno defeito, julgando- se, ela mesma, indigna de tal majestade e grandeza. Santa Catarina de Génova, grande mística do século XV, deixou uma obra muito profunda sobre a realidade do Purgatório e do Inferno.

Explica ela o seguinte: "Digo mais: no concernente a Deus, vejo que o Paraíso não tem portas e ali pode entrar quem quiser, pois Deus é todo misericórdia e seus braços estão sempre abertos para nos receber na glória; mas a divina Essência é tão pura - infinitamente mais pura do que podemos imaginar - que a alma, vendo nela mesma a menor das imperfeições, prefere atirar-se em mil infernos a aparecer suja na presença da divina Majestade. Sabendo então que o Purgatório está criado para a purificar, ele mesma se joga nele e encontra ali grande misericórdia: a destruição de suas faltas".

Essas manchas, a serem purificadas na outra vida, o que são? São os restos de apego exagerado às criaturas, ou seja, as imperfeições, e os pecados veniais, bem como a dívida temporal dos pecados mortais já perdoados no Sacramento da Reconciliação. Tudo isso diminui na alma o amor de Deus. Por causa dessas afeições desregradas se estabelece um estado de desordem em nosso interior, afastando- nos do Mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas.

Essa é a causa pela qual, antes de permitir a uma alma subir até a glória celestial, "a justiça de Deus exige uma pena proporcional que restabeleça a ordem perturbada" (Suma Teológica, Supl. q. 71, a. 1) E a alma se sujeita ao castigo do Purgatório com alegria, em plena conformidade com a vontade do Senhor.

As almas benditas do Purgatório, logo após terem abandonado o corpo inerte, discerniram a inefável e puríssima beleza de Deus, mas não podem possuí-la imediatamente. Santa Catarina de Génova usa uma expressiva metáfora para explicar essa dor:

"Suponhamos que, no mundo inteiro, exista apenas um pão para matar a fome de todas as criaturas, e que basta olhar para esse pão para ficarem satisfeitas. Por sua natureza, o homem saudável tem o instinto de se alimentar. Imaginemos que ele seja capaz de se abster dos alimentos sem morrer, sem perder a força e a saúde, mas aumentando cada vez mais a fome. Ora, sabendo que só aquele pão pode saciá-lo e que não poderá matar sua fome enquanto não o alcançar, ele sofre sacrifícios insuportáveis, os quais serão tanto maiores quanto mais longe ele estiver do pão".

Por isso, há nas almas do Purgatório um matiz de alegria no meio da dor. De forma brilhante, explica- o o Papa João Paulo II, na alocução de 3 de Julho de 1991: "Mesmo que a alma tenha de sujeitar-se, naquela passagem para o Céu, à purificação das últimas escórias, mediante o Purgatório, ela já está cheia de luz, de certeza, de alegria, pois sabe que pertence para sempre ao seu Deus".

E Santa Catarina de Génova afirma: "Estou certa de que em nenhum outro lugar, exceptuando o Céu, o espírito pode achar uma paz semelhante à das almas do Purgatório".

Isso ocorre porque a alma se fixa na disposição em que se encontra na hora da morte, ou seja, contra ou a favor de Deus, pois a liberdade humana termina com a morte. E tendo falecido na amizade de Deus, a alma do Purgatório se adapta com docilidade à sua santa vontade. Daí conservar a paz em meio a terríveis sofrimentos.

Não devemos pensar só no nosso destino pessoal, mas também nos perguntarmos como podemos ajudar aquelas almas que já estão à espera da libertação. Elas não podem fazer nada por si, pois estão impossibilitadas de alcançar méritos, e dependem de nós. Interceder por elas é uma belíssima e valiosa obra de misericórdia: de certo modo, não há ninguém mais carente do que elas.

Diversos Padres da Igreja promoveram essa prática, como São Cirilo de Jerusalém, São Gregório de Nissa, Santo Ambrósio e Santo Agostinho. No século XIII, o Concílio de Lyon ensinava:
"As almas são beneficiadas pelos sufrágios dos fiéis vivos, quer dizer, o sacrifício da Missa, as orações, esmolas e outras obras de piedade, as quais, segundo as leis da Igreja, os fiéis estão acostumados a oferecer uns pelos outros".

Como é bela a devoção às benditas almas do Purgatório! É agradável a Deus e nos beneficia também, levando-nos à verdadeira dimensão cristã da existência, fazendo-nos viver em contacto e comunhão com o sobrenatural, e com o futuro, no sentido mais pleno da palavra. Como essas pobres almas nos ficarão agradecidas ao receber nosso auxílio! Poderão ser nossos parentes, ou até mesmo nossos pais. Poderá ser alguém que não conhecemos, e que nos dará uma afectuosa acolhida na eternidade. No Céu, e enquanto ainda estiverem no Purgatório, elas rezarão por nós, com todo o empenho, pois Deus lhes dá essa possibilidade.
Rezemos por essas almas necessitadas, ofereçamos- lhes Missas, dêmos esmolas por elas, façamos sacrifícios e consigamos que outras pessoas se tornem devotas fervorosas das almas benditas.

Vimos que a Igreja triunfante do céu, a Igreja militante da terra e a Igreja sofredora do purgatório, paciente, nada mais são que uma só e a mesma Igreja Católica; que a caridade, mais forte que a morte as uniu do céu à terra, e da terra ao purgatório. São como três partes duma só e mesma procissão de santos, procissão que avança da terra ao céu. As almas do purgatório participarão daquela procissão um dia. Sim, porque ainda não tem, bem brancas, as vestimentas de festa, a roupa nupcial ainda guarda nódoas, aquelas nódoas que somente o sofrimento limpa.

Fonte: saudedalma.blogspot.com

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