Autor: Gustavo Corção
(...)
Há um profundo e instintivo medo da liberdade. E esse medo, na
superfície dos conceitos conscientes, aparece com os postulados de uma
filosofia que é respirada, que é possuída e vivida pelos americanos e
pelos russos. Segundo essa filosofia, o homem é essencialmente produtor.
Realiza a plenitude de sua essência quando está produzindo. É homem,
pleno homem, nas horas de eficiência. E daí se tira o conceito negativo
de ócio e lazer.
Ora,
por escandalosa que possa parecer tal afirmação é no ócio, no lazer, no
descanso ou na vadiação que o homem atinge, ou pode atingir, a
plenitude de sua condição. O trabalho, em outras palavras, não tem
caráter de fim. É um meio. A vida humana está condicionada para o
trabalho. Metafisicamente, é mais importante chegar à casa do que chegar
ao local do emprego; é mais elevado, mais plenamente humano, levar o
filho ao jardim zoológico, ouvir um quarteto de Bocherini, conversar com
os amigos, do que ser general do exército, engenheiro ou presidente da
república. Todos os títulos extrínsecos são inferiores ao título
fundamental que todos possuem em casa, quando encontram o cerne de sua
personalidade e recuperam o nome de batismo.
O
pragmatismo que tornou maquinal o ilustre inventor de todas as
máquinas, e que pretende tecnicalizar a própria vida do glorioso criador
das técnicas, dá ao lazer um valor negativo, como o do sono, ou como o
do repouso das máquinas. Mas o repouso humano não se define como
interrupção do trabalho. Ao contrário, é o momento em que a vida ganha
nova dimensão e recupera a plenitude da dignidade. E sobretudo é o
momento em que a alma humana conquista a liberdade para o mais alto,
para o mais humano tipo de atividade: o convívio afetivo, o exercício
lúdico, a contemplação da beleza e da verdade. Completa-se o quadro, em
pauta de ordem mais elevada, com a vida de contemplação e de oração.
A
dignidade do trabalho não se mede com escala tirada do próprio
trabalho, não se mede pela eficiência e pela produtividade. Mede-se
pelos frutos que proporcionam, isto é, pela paz e pelo repouso que dão
aos homens. É bom explorar as jazidas de petróleo para que em maior
número os homens possam gozar os benefícios desse mineral, isto é,
possam voltar para casa com conforto, ou levar a criançada ao jardim
zoológico. Ver a zebra, ou passar a noite conversando com amigos, é a
finalidade última que dá às refinarias e aos demais maquinismos sua
verdadeira importância.
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Em JMJ,
Grupo São Domingos de Gusmão.