A
chamada Idade das Trevas, período que compreende o continente europeu
entre os séculos V e XV, é uma era misteriosa, sobre a qual aprendemos
na escola uma série de “verdades” bizarras acerca de como os homens
viviam, suas crenças, leis, sempre com um viés recheado de ignorância e
inferioridade em relação aos tempos modernos. Muitas crenças indevidas
foram difundidas sobre a vida nessa época, generalizando fatos que,
muitas vezes, eram restritos a certos grupos, ou lendas infundadas, como
a de que o homem medieval acreditava que a Terra era achatada, ou que
todos eram totalmente obedientes à religião, que as mulheres não tinham
direito algum.
Selecionamos os 11 mais interessantes e fizemos a tradução do artigo,
incrementando com mais informações pesquisadas sobre cada um dos mitos
citados:
1. Os medievais acreditavam que a terra era achatada.
Ao contrário do que se popularizou, praticamente todos os estudioso medievais acreditavam que o mundo era redondo. A proposição dos antigos gregos sobre o formato arredondado do planeta terra era a imagem predominante dos sábios e estudiosos europeus, pois a base dos estudos científicos era da cultura helenística. Até o século XIV não há nenhuma menção sobre o formato achatado do planeta. No entanto, durante o século XIX, período de estabelecimento do positivismo e da visão cientificista da realidade, foi amplamente noticiado que as pessoas na Idade Média pensavam que a Terra era plana, para ilustrar o atraso do pensamento teocêntrico que essa era simbolizava. Alguns livros didáticos antigos forneciam essa informação, filmes como 1492 – A descoberta do Paraíso, reforçaram esse estereótipo que ganhou força na cultura popular.
2. A Primae Noctis realmente acontecia.
Popularizou-se, por meio de alguns filmes satíricos e outros sérios, que os senhores feudais teriam alguns direitos bizarros, como da “primeira noite” que consistiria em dormir com a noiva na sua primeira noite de casada antes do noivo, desvirginando-a. Não há nenhum registro desse tipo de fenômeno acontecendo durante a Idade Média, parecendo mais provável que essa crença tenha origem na narrativa oral dos povos camponeses. É possível que houvesse eventualmente atitudes tirânicas como essa por parte de algum nobre mais sádico, cuja barbaridade tenha criado fama na boca do povo e circulado como prática comum. Novamente destaca-se os fins do século XVII e início do XIX, época das enciclopédias, em que se reviu o mundo antigo e vários intelectuais aventuraram-se nos domínios da História, criando à sua maneira os dados que julgavam notórios para pintar a mal-fadada Era das Trevas.
3. Os vikings usavam capacetes com chifres
Vikings
e outros guerreiros medievais nunca usavam capacetes com chifres – que
não seria muito útil na batalha. No século 19 artistas escandinavos
começaram a adicionar esses tipos de elmos à imagem de suas
representações dos Vikings. Johnni Langer, pesquisador brasileiro
(professor de História Medieval no departamento de História da UFMA,
Universidade Federal do Maranhão, em São Luís), em seu “The origins of
the imaginary viking”, esclarece o mito a partir da popular crença de
que o maior medo dos vikings é de que o céu lhes caísse na cabeça, frase
celebrada pelo personagem Asterix, o gaulês. Durante o Romantismo,
artistas europeus, particularmente britânicos, passaram a pintar os
nórdicos com o elmo cornudo, tornando a imagem consagrada (como muitas
outras criadas pelos românticos, responsáveis por boa parte do
imaginário popular moderno acerca do mundo antigo).
4. Que havia instrumentos de tortura elaboradas na Idade Média
Claro que havia tortura durante a Idade Média, mas muitas das ferramentas que pertencem ao imaginário popular como sendo medievais foram desenvolvidas muito tempo depois dessa época. O instituto religioso responsável pelos inquéritos que usavam da tortura como recurso era o tribunal do Santo Ofício, a famosa Inquisição da Igreja Católica. A época em que a Inquisição foi mais violenta veio depois da era medieval, após a iniciativa que foi chamada de Contrarreforma, que atuou entre os séculos XVI e XIX. Invenções como a “cadeira interrogatória”, a tenebrosa “Iron Maiden”, a “Pera da angústia” e o “estripador de mamas” não são medievais.
5. Que cintos de castidade foram usados para impedir as mulheres de terem relações sexuais.
A lenda popularizada em torno desse objeto é que teria sido criado para impedir que as esposas de cavaleiros enviados às Cruzadas os traíssem quando estivessem sozinhas. Ainda há teses de que os cintos eram impostos por pais tirânicos para preservar a pureza de suas filhas, ou como castigo a certas damas cujos maridos temiam pela conduta. Na verdade, a maioria dos historiadores concorda que, embora haja algumas peças datadas do fim da Idade Média, o cinto só teria surgido em meados do século XIX, ou seja, em nos anos 1800, bem depois do fim da Era das Trevas.
6. As pessoas com 30 anos de idade já eram velhas.
Costuma-se dizer que, durante a era medieval, quem chegasse aos trinta anos já estaria velho, o que atiça o imaginário das pessoas com imagens esdrúxulas do aspecto dos adultos de então. Nada mais surreal. A expectativa de vida durante uma época é calculada levando em conta todas as pessoas, inclusive crianças. Como a mortalidade juvenil dessa época era bem alta, na estatística a idade média atingida pelos medievos girava em torno de 30 anos, contudo, ninguém era considerado velho antes de completar seus 50 anos, pelo menos. Era comum que se chegasse à idade de 60, 70 anos e muitos passavam dos 80 ou 90 com saúde.
7. Eles não usavam talheres.
Pessoas medievais não comiam de tudo com as mãos. Facas e colheres eram comuns em toda a Idade Média e o garfo foi introduzido no Império Bizantino por volta do século VI, na Itália por volta do século XI. O fato é que muitas das comidas preparadas na época não necessitavam de talheres para serem ingeridas, como o pão, frango, peixe, frutas. Contudo, grãos, caldos e carnes eram comidos com uso de talheres como facas e colheres.
8. As pessoas da Idade Média não saíam de seus povoados, nunca viajavam.
O conceito de que as pessoas medievais nasciam, cresciam e morriam sem nunca sair de suas aldeias, ou vilarejos é pouco provável. Muitos registros diferentes mostram que as pessoas viajavam pelos feudos e até mesmo mudavam-se para diferentes partes de um país. Mesmo camponeses faziam peregrinações a igrejas e mosteiros para visitá-los, em seu país e no exterior.
9. As pessoas eram sujas e tinham péssimos hábitos de higiene pessoal.
As pessoas na Idade Média se banhavam sempre que possível e tentavam se manter limpas. Não só na nobreza, onde havia uma série de apetrechos utilizados para higiene pessoal, como bacias de porcelana, jarros de água no quarto, etc, como entre os camponeses, que tinham tinas em suas casas, onde a água (retirada de um poço ou rio, caso houvesse por perto) aquecida à lenha era usada para o banho. A partir do século XIII começam a surgir, nas grandes cidades como Paris, Londres, Veneza, Roma, contavam com banhos públicos, chamados de “estufas” que, já em torno de 1300, contavam com imersão em água quente com sabão e ervas. Para clarear os dentes, usava-se abrasivos à base de conchas e corais. A Igreja começou a perseguir a prática da higiene pessoal por volta do século XV, apregoando se tratar de uma prática libidinosa.
10. As mulheres medievais não tinham direitos
As mulheres na Idade Média podiam herdar, comprar e vender propriedades, executar um negócio, tinham muitos direitos legais (na verdade, alguns desses direitos diminuiriam na Época Moderna). A ideia de que elas eram escravas virtuais de seus maridos também é falsa. Era comum que mulheres assumissem a liderança dos negócios da família. Ocupavam cargos importantes em termos de gestão, inclusive tinham direito a voto nas comunas burguesas. A imagem da mulher inferiorizada em relação ao marido tem muita relação com os casamentos realizados entre a nobreza, em que a esposa era muito mais nova que o noivo, na união que visava mais interesse político que relacionamento amoroso, daí a tirania de um esposo mais velho e com predisposições despóticas pela posição social. Na maior parte dos casamentos comuns, os registros históricos apontam um papel igualitário entre homens e mulheres, no que se refere a poder de decisão em casa.
11. Que todas as pessoas medievais eram piedosas e obedientes à Igreja
Enquanto muitas pessoas na Idade Média eram piedosas e até mesmo extremamente devotas, há vários registros históricos que deixam evidentes as reclamações de oficiais da igreja em relação à total indiferença de muitos camponeses às práticas religiosas. Costumamos pensar no cidadão medievo como alguém inevitavelmente místico, seja como cristão ou pagão, com rituais supersticiosos de bruxaria ou coisa que o valha, mas documentos religiosos do século XI em diante relatam o incômodo do clero com uma parcela significativa de camponeses ou cortesões que simplesmente não ligavam a mínima para a religião alguma. Muitos camponeses tinham suas próprias ideias sobre a religião, que divergiram de ensinamentos oficiais da Igreja, e mesmo entre os teólogos houve muito debate sobre muitas questões, mostrando um cenário místico sobre o qual não há o consenso que imaginávamos.
1. Os medievais acreditavam que a terra era achatada.
Ao contrário do que se popularizou, praticamente todos os estudioso medievais acreditavam que o mundo era redondo. A proposição dos antigos gregos sobre o formato arredondado do planeta terra era a imagem predominante dos sábios e estudiosos europeus, pois a base dos estudos científicos era da cultura helenística. Até o século XIV não há nenhuma menção sobre o formato achatado do planeta. No entanto, durante o século XIX, período de estabelecimento do positivismo e da visão cientificista da realidade, foi amplamente noticiado que as pessoas na Idade Média pensavam que a Terra era plana, para ilustrar o atraso do pensamento teocêntrico que essa era simbolizava. Alguns livros didáticos antigos forneciam essa informação, filmes como 1492 – A descoberta do Paraíso, reforçaram esse estereótipo que ganhou força na cultura popular.
2. A Primae Noctis realmente acontecia.
Popularizou-se, por meio de alguns filmes satíricos e outros sérios, que os senhores feudais teriam alguns direitos bizarros, como da “primeira noite” que consistiria em dormir com a noiva na sua primeira noite de casada antes do noivo, desvirginando-a. Não há nenhum registro desse tipo de fenômeno acontecendo durante a Idade Média, parecendo mais provável que essa crença tenha origem na narrativa oral dos povos camponeses. É possível que houvesse eventualmente atitudes tirânicas como essa por parte de algum nobre mais sádico, cuja barbaridade tenha criado fama na boca do povo e circulado como prática comum. Novamente destaca-se os fins do século XVII e início do XIX, época das enciclopédias, em que se reviu o mundo antigo e vários intelectuais aventuraram-se nos domínios da História, criando à sua maneira os dados que julgavam notórios para pintar a mal-fadada Era das Trevas.
3. Os vikings usavam capacetes com chifres
4. Que havia instrumentos de tortura elaboradas na Idade Média
Claro que havia tortura durante a Idade Média, mas muitas das ferramentas que pertencem ao imaginário popular como sendo medievais foram desenvolvidas muito tempo depois dessa época. O instituto religioso responsável pelos inquéritos que usavam da tortura como recurso era o tribunal do Santo Ofício, a famosa Inquisição da Igreja Católica. A época em que a Inquisição foi mais violenta veio depois da era medieval, após a iniciativa que foi chamada de Contrarreforma, que atuou entre os séculos XVI e XIX. Invenções como a “cadeira interrogatória”, a tenebrosa “Iron Maiden”, a “Pera da angústia” e o “estripador de mamas” não são medievais.
5. Que cintos de castidade foram usados para impedir as mulheres de terem relações sexuais.
A lenda popularizada em torno desse objeto é que teria sido criado para impedir que as esposas de cavaleiros enviados às Cruzadas os traíssem quando estivessem sozinhas. Ainda há teses de que os cintos eram impostos por pais tirânicos para preservar a pureza de suas filhas, ou como castigo a certas damas cujos maridos temiam pela conduta. Na verdade, a maioria dos historiadores concorda que, embora haja algumas peças datadas do fim da Idade Média, o cinto só teria surgido em meados do século XIX, ou seja, em nos anos 1800, bem depois do fim da Era das Trevas.
6. As pessoas com 30 anos de idade já eram velhas.
Costuma-se dizer que, durante a era medieval, quem chegasse aos trinta anos já estaria velho, o que atiça o imaginário das pessoas com imagens esdrúxulas do aspecto dos adultos de então. Nada mais surreal. A expectativa de vida durante uma época é calculada levando em conta todas as pessoas, inclusive crianças. Como a mortalidade juvenil dessa época era bem alta, na estatística a idade média atingida pelos medievos girava em torno de 30 anos, contudo, ninguém era considerado velho antes de completar seus 50 anos, pelo menos. Era comum que se chegasse à idade de 60, 70 anos e muitos passavam dos 80 ou 90 com saúde.
7. Eles não usavam talheres.
Pessoas medievais não comiam de tudo com as mãos. Facas e colheres eram comuns em toda a Idade Média e o garfo foi introduzido no Império Bizantino por volta do século VI, na Itália por volta do século XI. O fato é que muitas das comidas preparadas na época não necessitavam de talheres para serem ingeridas, como o pão, frango, peixe, frutas. Contudo, grãos, caldos e carnes eram comidos com uso de talheres como facas e colheres.
8. As pessoas da Idade Média não saíam de seus povoados, nunca viajavam.
O conceito de que as pessoas medievais nasciam, cresciam e morriam sem nunca sair de suas aldeias, ou vilarejos é pouco provável. Muitos registros diferentes mostram que as pessoas viajavam pelos feudos e até mesmo mudavam-se para diferentes partes de um país. Mesmo camponeses faziam peregrinações a igrejas e mosteiros para visitá-los, em seu país e no exterior.
9. As pessoas eram sujas e tinham péssimos hábitos de higiene pessoal.
As pessoas na Idade Média se banhavam sempre que possível e tentavam se manter limpas. Não só na nobreza, onde havia uma série de apetrechos utilizados para higiene pessoal, como bacias de porcelana, jarros de água no quarto, etc, como entre os camponeses, que tinham tinas em suas casas, onde a água (retirada de um poço ou rio, caso houvesse por perto) aquecida à lenha era usada para o banho. A partir do século XIII começam a surgir, nas grandes cidades como Paris, Londres, Veneza, Roma, contavam com banhos públicos, chamados de “estufas” que, já em torno de 1300, contavam com imersão em água quente com sabão e ervas. Para clarear os dentes, usava-se abrasivos à base de conchas e corais. A Igreja começou a perseguir a prática da higiene pessoal por volta do século XV, apregoando se tratar de uma prática libidinosa.
10. As mulheres medievais não tinham direitos
As mulheres na Idade Média podiam herdar, comprar e vender propriedades, executar um negócio, tinham muitos direitos legais (na verdade, alguns desses direitos diminuiriam na Época Moderna). A ideia de que elas eram escravas virtuais de seus maridos também é falsa. Era comum que mulheres assumissem a liderança dos negócios da família. Ocupavam cargos importantes em termos de gestão, inclusive tinham direito a voto nas comunas burguesas. A imagem da mulher inferiorizada em relação ao marido tem muita relação com os casamentos realizados entre a nobreza, em que a esposa era muito mais nova que o noivo, na união que visava mais interesse político que relacionamento amoroso, daí a tirania de um esposo mais velho e com predisposições despóticas pela posição social. Na maior parte dos casamentos comuns, os registros históricos apontam um papel igualitário entre homens e mulheres, no que se refere a poder de decisão em casa.
11. Que todas as pessoas medievais eram piedosas e obedientes à Igreja
Enquanto muitas pessoas na Idade Média eram piedosas e até mesmo extremamente devotas, há vários registros históricos que deixam evidentes as reclamações de oficiais da igreja em relação à total indiferença de muitos camponeses às práticas religiosas. Costumamos pensar no cidadão medievo como alguém inevitavelmente místico, seja como cristão ou pagão, com rituais supersticiosos de bruxaria ou coisa que o valha, mas documentos religiosos do século XI em diante relatam o incômodo do clero com uma parcela significativa de camponeses ou cortesões que simplesmente não ligavam a mínima para a religião alguma. Muitos camponeses tinham suas próprias ideias sobre a religião, que divergiram de ensinamentos oficiais da Igreja, e mesmo entre os teólogos houve muito debate sobre muitas questões, mostrando um cenário místico sobre o qual não há o consenso que imaginávamos.
Fonte: http://semema.com/os-11-maiores-mitos-sobre-a-idade-media-reveja-seus-conceitos/
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Em JMJ,
Grupo São Domingos de Gusmão.