15 de junho de 2011

Os corvos e os meninos; quedas nos pecados

Por S. João Bosco [1864 A. D.]

Conta a Crônica de Dom Ruffino:

"Nos dia 14 de abril, (São) João Dom Bosco falou de noite com os estudantes e, ao dia seguinte, aos artesãos também, depois das orações.

Relatou em tal ocasião os dois sonhos seguintes que teve, um antes e o outro depois dos Exercícios Espirituais. Assegurava o (Santo) que aqueles sonhos produziram-lhe um profundo terror.

Era a noite precedente à Dominica in Albis, e pareceu encontrar-me no balcão de minha habitação vendo como os jovens se divertiam. Quando eis aqui que vejo aparecer um enorme tecido branco que cobria todo o pátio, debaixo do qual os jovens continuavam seus jogos. Enquanto contemplava aquela cena, vejo uma grande quantidade de corvos que começaram a voar sobre o tecido, a girar por uma parte e por outra até que introduzindo-se pela extremidade do mesmo, jogaram-se sobre os moços para picar-lhes.

O espetáculo que se ofereceu a minha vista foi desolador: a uns tiravam os olhos; a outros picavam a língua, fazendo-lhe mil pedaços; a este davam bicadas na frente e a aquele outro feriam o coração. Mas, o que mais admiração causava, era como eu me dizia mesmo, que nenhum dos jovens gritava ou se lamentava, mas sim todos permaneciam indiferentes, como insensíveis, sem tentar sequer defender-se.

— Estou sonhando — me dizia a mim mesmo — ou estou acordado? É possível que estes se deixem ferir sem lançar um grito de dor?

Mas ao momento senti um clamor geral e depois vejo os feridos que começam a agitar-se, que gritam, que fazendo grande ruído se separam os uns dos outros. Maravilhado ante aquele espetáculo, comecei a pensar no significado de quanto via.

—Talvez, — pensava em mim — como é na sábado in Albis, o Senhor me quer dar a entender seu desejo de nos cobrir a todos com sua graça. Esses corvos serão os demônios que assaltam aos jovens.

Mas, qual não seria minha surpresa, ao comprovar que na segunda-feira diminuíam as Comunhões, na terça-feira muito mais e na quarta-feira de uma maneira alarmante; até o ponto de que, mediada a Missa, já tinha terminado de confessar.

Nada quis dizer, pois estando próximos os Exercícios Espirituais esperava que tudo ficaria solucionado.

Ontem, 13 de abril, tive outro sonho. Com o passar do dia tinha estado confessando; portanto, minha imaginação estava ocupada com o pensamento das almas dos jovens, como o está quase sempre. De noite fui descansar, mas não podia fazê-lo; estava meio dormido, meio acordado, até que ao fim fiquei adormecido.

Então, pareceu-me encontrar-me outra vez no balcão seguindo com a vista o recreio dos jovens.

Vi todos aqueles que tinham sido feridos pelos corvos e os observei atentamente. Mais, de repente, apareceu um personagem com um vaso cheio de um bálsamo numa mão. Ia acompanhado de outro que levava um pano. Ambos dedicaram-se a curar as feridas dos jovens, as quais, ao contato com o bálsamo, ficavam imediatamente cicatrizadas. Houve, entretanto, alguns que ao ver aqueles dois personagens aproximar-se, separaram-se deles e não quiseram ser curados. E, o que mais me desagradou, foi que os tais formavam um número bastante respeitável. Preocupei-me de escrever seu nome em uma parte de papel, pois os conhecia todos, mas enquanto o fazia despertei e encontrei-me sem o papel.

Contudo, fiz um esforço para retê-los na memória, e guarda a lembrança de quase todos. Talvez poder-me-ia esquecer de algum, mas acredito que seriam contados. Agora irei falando, pouco a pouco, com os interessados e procurarei induzir-lhes a sanar de suas feridas.

Dêem a importância que queiram a este sonho; o que lhes posso assegurar é que se lhe emprestarem plena fé não causarão prejuízo algum a suas almas.

Recomendo-lhes encarecidamente que estas coisas não saiam do Oratório. Eu o conto todo, mas desejo que tudo permaneça em casa.

O Cronista não faz comentário algum sobre este sonho, nem oferece nenhuma outra explicação, talvez considerando que as palavras do relato exposto por (São) João Dom Bosco oferecem já em si uma interpretação.

(M. B. Volume VII, págs. 649-650)

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Grupo São Domingos de Gusmão.